1 de fevereiro de 2020

Paquistão declara Emergência Nacional pelo maior surto de gafanhotos em décadas

Medida ocorre na mesma semana em que a FAO anunciou necessidade de US$ 70 milhões para força-tarefa contra a praga na África, com destaque para uso de aviação agrícola nos dois casos

O governo do Paquistão declarou neste sábado (1º) Emergência Nacional devido à destruição e lavouras pela pior infestação de gafanhotos do deserto das últimas duas décadas. A declaração foi feita pelo primeiro-ministro Imran Khan um dia depois da reunião com ministros e parlamentares para tratar do tema. Segundo o ministro da Segurança Alimentar, Makhdoom Khusro Bakhtia, o país já realizou pulverizações aéreas em 20 mil hectares e as ações contra os insetos (incluindo operações terrestres) devem cobrir 121,4 mil hectares. As informações foram publicadas esta manhã pela Deutsche Welle. Os insetos teriam chegado ao Paquistão em junho, a partir do Irã, e já estariam também na fronteira com a Índia.

Ações contra a praga devem abranger mais de 120 mil hectares  – Foto: ProPakistani

A declaração de emergência no Paquistão veio na mesma semana em que a Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) discutiu a necessidade de US$ 76 milhões para combater o surto de gafanhotos na região do Chifre da África – o pior dos últimos 25 anos na Somália e Etiópia e o maior desde 1950 no Quênia. Onde, segundo a FAO, “dada a escala atual do problema, a pulverização aérea é o único meio eficaz para reduzir o número de gafanhotos”.

FENÔMENO CLIMÁTICO
A causa do aumento da incidência dos surtos de gafanhotos entre o oeste da África e o Oriente Médio estaria ligada ao chamado Dipolo do Oceano Índico (também conhecido como El Niño do Índico). Fortalecido, segundo especialistas, pelas mudanças climáticas, nos últimos meses ele teria tornado a Austrália muito mais seca, enquanto países como Quênia, Somália e Etiópia se tornam mais úmidos e mais hospitaleiros aos insetos.

Resultado: os grandes incêndios que desde o ano passado castigam os australianos (e que também contam com aviação para seu combate) e os surtos de gafanhotos que estão destruindo a produção de alimentos em áreas que já sofrem com a fome.

Os gafanhotos podem viajar até 150 quilômetros por dia em grandes nuvens. Uma fêmea pode colocar 300 ovos ao longo de sua vida e mesmo um pequeno grupo pode consumir em pouco tempo alimento suficiente para alimentar cerca de 3,5 mil pessoas. Nos anos 90, a FAO chegou a contratar empresas aeroagrícolas de diversos países para atuar no combate a gafanhotos na África. E, desde o início dos anos 2000, a aviação agrícola faz parte das estratégias permanentes de combate à praga no continente.

Além disso, grandes surtos de gafanhotos foram determinantes para o surgimento da aviação agrícola em pelo menos cinco países, entre as décadas de 1920 e 1940: Argentina, Uruguai, Brasil, Austrália e Paraguai.

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