PRODUTOR RURAL SEM RENDA: CAOS SOCIAL E ECONÔMICO NOS MUNICÍPIOS

Vou abrir este espaço hoje para falar de algumas relações existentes entre o campo e a cidade.
Vou falar do que entendo: meio ambiente e produção agrícola.

No tocante a meio ambiente, os mais antigos vão lembrar-se que há 50 anos não tínhamos os mais de 800 reservatórios de água que temos hoje no município de Alegrete e, destes, quase 90% construídos pelos arrozeiros. Se, de fato, podemos relacionar a evaporação superficial desses reservatórios como um regulador do microclima regional, só os especialistas podem afirmar. O fato é que as grandes secas que ocorriam na região, matando de fome e sede inúmeras cabeças de gado e inviabilizando a produção agrícola… já não ocorrem mais. Vamos considerar, também, que estes reservatórios impedem que a água das chuvas se perca rapidamente no solo raso e rochoso da nossa região, permitindo uma lenta e gradual reposição dos mananciais naturais?

Para que a população citadina sobreviva, tem que haver terras. Mas a terra sozinha de nada serve à humanidade dado o seu atual estado de desenvolvimento e dependência, pois não somos mais caçadores ou coletores. Ninguém se alimenta nos dias atuais sem que tenhamos homens e mulheres cultivando a terra e produzindo grãos, verduras e legumes, frutas, ervas medicinais, leite, mel e proteína animal. Grande parte do que vestimos depende de homens e mulheres produzindo fibras como o algodão e a lã. Usamos nos veículos o álcool de cana e nos transportes públicos e utilitários uma mistura de diesel de petróleo e biodiesel vindo da soja ou de gordura animal.

Sem renda na sua atividade, esses homens e mulheres e suas famílias, deixarão o campo e virão engrossar os bolsões de pobreza no meio urbano, competindo pelas vagas de trabalho com quem já mora na cidade. Sem a atividade rural, a renda do campo e suas demandas, muitas empresas que dependem desse agronegócio, cerrarão suas portas ou reduzirão sua receita e teremos mais desemprego: mecânicas, aeroagrícolas, borracharias, vendas de peças, insumos e máquinas e implementos, escritórios de contabilidade e assistência técnica agronômica e comércio em geral. Entidades como Emater e Irga atenderão a quem?

Todo esse caos econômico e social reflete diretamente nos bairros, na saúde, na educação e na mobilidade dos municípios cujo DNA é agropecuário. O município arrecada menos e fica mais pobre. Investe menos em educação, na contratação de médicos, nas UPAs… Investe menos em saneamento, iluminação, limpeza urbana, calçamentos, asfaltamento e estradas.

Quem será responsabilizado por esse impacto social advindo do êxodo rural? O produtor foi convocado para ser eficiente, investir em tecnologias e alcançar altas produtividades para alimentar a humanidade. No entanto, atualmente não tem qualquer garantia de receber pelos seu produto um preço que, pelo menos, cubra seus custos de produção.

Onde estão nossos políticos e governantes que após anos de mandatos com sua renda garantida nada fizeram para termos uma Política Agrícola nesse país? Certamente aparecerão em outubro, para depois nunca mais serem vistos.