Resíduos de produtos fitossanitários em água: mais um caso de manipulação de dados e notícias falsas.

Resíduos de produtos fitossanitários em água: mais um caso de manipulação de dados e notícias falsas.

A pesquisa veiculada pela Agência Pública (Agência de Jornalismo Investigativo) sobre a contaminação por produtos fitossanitários na água consumida em 1.396 municípios do País publicada na internet tem o título: “Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios. Os dados utilizados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. A reportagem afirma que a maioria dos produtos fitossanitários está abaixo do limite máximo estipulado pela legislação brasileira. Fala em contaminação múltipla e cita as capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas. Também afirmam que os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram produtos fitossanitários. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017.  Mas na verdade todas estas informações são errôneas e distorcidas, pois se trata de uma simples compilação feita por leigos que não sabem o que estão lendo e não entendem o significado destes números, além do que os manipulam para criar uma situação de caos e de informações falsas com grande viés ideológico.

Os dados que estão sendo vinculados em várias matérias pelo País e inclusive nesta foram mal interpretados e sistematizados. No relatório do Sistema são informados três tipos de coleta de água: captação, coleta na saída do tratamento e a coleta no sistema de distribuição. Os resultados são inseridos e divulgados conjuntamente. Ocorre que para muitos casos a maioria dos produtos fitossanitários é eliminada antes da entrada na estação ou mesmo no tratamento e esta análise conjunta não é correta.

Outro aspecto é que a Norma do MS que estabeleceu os VMP não padronizou a metodologia de análise utilizada, havendo a possibilidade de resultados diversos e bastante discrepantes e isto torna os dados pouco comparáveis e muito sujeitos tanto a falsos positivos e negativos. A manipulação vem ocorrendo e o alarde porque todas as reportagens e inclusive esta paga por ONG Suíça (quem é a Suíça em termos de agronegócio) utilizaram os dados dos últimos 4 anos de forma conjunta e construíram os mapas e gráficos das supostas contaminações. Todas as reportagens pelo País não fizeram análise pormenorizada da qualidade das informações inseridas no Banco de Dados e qualquer informação equivocada foi contabilizada como valor extrapolado.

Várias delas informavam que entre os produtos, o glifosato estava associado à contaminação da água e chegaram a informar que oito amostras apresentavam VMP acima do tolerado. Para que se tenha uma ideia do grau de distorção e manipulação, foram feitas 35 mil análises para glifosato e somente em cinco amostras (0,014%) o resíduo foi superior ao VMP, sendo uma coletada em captação e outras quatro com problemas de preenchimento o que não dá para ver se é na captação, na estação ou na distribuição.

Outra inverdade citada é de que o VMP do glifosate é 5.000 vezes maior no Brasil do que na União Europeia. Não se pode comparar o VMP do glifosate, nem de qualquer outro produto fitossanitário, com a União Europeia, pois esta não possui os valores máximos por ingrediente ativo estabelecido para água. A UE determinou que o limite para qualquer contaminante químico em água é o limite de detecção da metodologia analítica utilizada por eles que é de 0,01 µg/L (limite de detecção do método analítico ou valor de default). A nossa metodologia segue vários critérios técnicos e científicos internacionalmente validados e utilizados em outros Países como nos EUA e não tem como comparar com um critério baseado num princípio jurídico denominado “princípio da precaução” utilizado pelos Europeus e que apresenta uma validade científica altamente discutível.

Desta forma, a análise correta e honesta dos dados do SISAGUA, mostram níveis extremamente baixos de contaminação da nossa água de beber, inferiores a de vários outros Países. Para concluir, estas notícias enganosas de nada servem no sentido de proteger a população brasileira, pois criam uma percepção totalmente errada de risco e podem colocar a mesma em situação de pânico, além de denegrir a alta qualidade dos serviços prestados pelas Empresas responsáveis pelo abastecimento de água no País quanto à potabilidade da água oferecida e ao controle rotineiro da sua qualidade, que segue padrões internacionais quanto aos parâmetros físicos, químicos e biológicos que definem a sua potabilidade e a sua segurança ao usuário.

 

 

*Professor Titular Aposentado de Toxicologia, Ecotoxicologia e Toxicologia de Alimentos em cursos de Agronomia, Engenharia Ambiental, Farmácia, Engenharia de Alimentos e Medicina Veterinária em várias Instituições de Ensino Superior no Rio Grande do Sul. Atualmente consultor na área.