3 de outubro de 2022

EUA: entrevista aborda história e cenários do setor aeroagrícola

O diretor-executivo da NAAA, Andrew Moore, conversou com o comunicador Jesse Allen, do American Ag Network, sobre demandas e o trabalho da entidade

A história, cenário e desafios da aviação agrícola nos Estados Unidos foram tema no podcast do portal American Ag Network, na edição da última quarta-feira, 28 de setembro. O canal, com sede em Fargo, no Estado de Dakota do Norte, também tem (desde 1984) suas notícias transmitidas por dezenas de rádios afiliadas, em todo o território norte-americano. Desta vez, o entrevistado foi o diretor-executivo da Associação Nacional de Aviação Agrícola dos Estados Unidos (NAAA, na sigla em inglês), Andrew Moore. A conversa foi com o comunicador Jesse Allen.

Confira no final do texto o vídeo da entrevista

Andrew (que em abril comemorou 25 anos de atuação na NAAA) falou sobre os avanços da aviação agrícola no País em mais de 100 anos, desde o começo, “com biplanos que foram usados na Primeira Guerra Mundial, com capacidade para 150 galões (o equivalente a 567 litros no hopper) e onde se tinha sinalizadores humanos em campo (bandeirinhas). E agora, com aeronaves de 800 galões (pouco mais de 3 mil litros), e motores turbo, com sistemas de DGPS e outras tecnologias embarcadas para atingir o alvo com muito mais eficiência”.  

O comunicador lembrou a importância da aviação no cenário verificado no início do ano, com a alta umidade na região da Dakota. Casos em que, devido às chuvas, tornou-se complicado o trato das lavouras com equipamentos terrestres. Ao mesmo tempo em que a umidade aumenta a pressão por aplicações contra fungos e pragas – cenário em que a ferramenta consegue agir até cinco vezes mais rápido é muito bem-vinda. “Seja um inseto, seja um fungo, seja uma erva daninha, você sabe que quanto mais rápido você chegar, melhor será o rendimento da colheita para aquele agricultor”, sublinhou Allen. Sem contar o fato de que o atraso no combate a uma erva daninha pode fazer com que o produtor tenha que encarar uma invasora muito mais forte, por ela ter crescido.

TECNOLOGIAS E DRONES

Respondendo sobre a prevenção da deriva nas aplicações, Moore falou sobre as várias técnicas e tecnologias embarcadas para isso. Desde o DGPS (que surgiu para substituir os antigos bandeirinhas, mas hoje é praticamente o cérebro da aeronave) até sistemas auxiliares para leitura das condições atmosféricas – medindo (a cada 3 segundos) a direção e velocidade do vendo, pressão barométrica e a umidade do ar e alimentando diretamente o DGPS com esses dados. Todos auxiliando o piloto a garantir precisão na aplicação e proteção a áreas sensíveis.

Os drones também entraram na conversa e o representante do setor aeroagrícola foi um tanto conservador na abordagem. Moore destacou que o número de operadores que estão adotando drones nos Estados Unidos ainda é pequeno – segundo a pesquisa anual que a NAAA faz dentro do setor.

“Mas (os equipamentos remotos) têm potencial para atender áreas menores e nas quais nós (aviação tripulada) não iríamos”, devido ao tamanho ou presença de obstáculos. O dirigente aeroagrícola lembrou que os operadores do setor tratam por ano cerca de 127 milhões de acres (pouco mais de 51 milhões de hectares) de lavouras nos Estados Unidos. O que representa quase um terço das terras agrícolas do País. “Isso não inclui as áreas de pastagem e silvicultura”, acrescentou, destacando que os drones ainda são pequenos e lentos (no comparativo com aviões).

O que não impede que a tecnologia avance para aparelhos maiores. “Mas aí teriam que passar pelo mesmos processo que passamos, com a aeronave tendo que ser certificada a mantida adequadamente (como um avião)”, acrescentou Moore, fazendo ainda uma analogia com o projeto de automóveis automáticos da Tesla, empresa do trilionário Elon Musk.

REGULAÇÃO

Aliás, sobre regulação, o representante da entidade coirmã do Sindag lembrou que o setor aeroagrícola na terra do Tio Sam tem uma atuação forte para que a ferramenta aérea figure nas bulas dos insumos para lavoura. Inclusive nas renovações de licença dos produtos, que ocorre a cada 15 anos no país. “Trabalhamos com a FAA (a agência de aviação civil do país, como a Anac brasileira) e a EPA (a Agência de Proteção Ambiental de lá, como o nosso Ibama) e os fabricantes de pesticidas, fornecendo informações sobre nossa tecnologia e segurança.” Até porque, segundo Moore, em boa parte dos casos os parâmetros iniciais das agências superestimam o risco.

Lembrando, ainda segundo o executivo, que sem aviões a necessidade de aplicações aumenta, há mais trabalhadores expostos aos produtos e, com menos eficiência no trato, é preciso avançar a fronteira agrícola para se atingir os mesmos níveis de produção.

Outra frente de atuação da NAAA relacionada na conversa com o jornalista Jesse Allen é para que a FAA faça cumprir a lei de 2018 que determina a sinalização das torres de avaliação meteorológica para instalação de turbina eólicas. Neste caso, o problema é que, enquanto a turbine eólica é grande e extremamente visível quando dentro ou próxima a uma área de aplicação aeroagrícola, as torres de avaliação – instaladas meses antes para conferir se há na área ventos que viabilizem o investimento – são finas e ancoradas em cabos de aço praticamente invisíveis para um piloto voando baixo. Para completar, normalmente são erguidas sem aviso prévio para aplicadores em áreas vizinhas. E poucas são sinalizadas, o que já matou pilotos nos Estados Unidos.

O diretor-executivo encerrou a entrevista lembrando que, além de ter completado 101 anos (no último dia 3 de agosto), a aviação agrícola norte-americana também atua forte no combate a incêndios florestais (como ocorre aqui). Além de, por lá, também combater mosquitos e outras pragas transmitem doenças para as pessoas.

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