31 de janeiro de 2023

Tecnologia brasileira impulsiona aviação agrícola contra chamas no Uruguai

A pedido de operadores do país vizinho, Zanoni Equipamentos aperfeiçoou comporta hidráulica contra incêndios, permitindo revezar missões de emergência com operações de semeadura

Com a temporada de incêndios florestais acima do normal no Uruguai, o ano de 2022 e este início de 2023 marcaram a entrada em cena da tecnologia brasileira em apoio à aviação agrícola cisplatina no combate às chamas. A paranaense Zanoni Equipamentos anunciou na última semana resultados positivos nos ajustes feitos em suas comportas hidráulicas para atender às características do país vizinho. Com melhorias que devem favorecer também os operadores brasileiros e de outros países atendidos pela fabricante.

Basicamente, a comporta hidráulica da Zanoni, que é transversal, ganhou agora um controle de abertura. A mudança ocorreu pedida pelos operadores uruguaios e foi testada por três das mais tradicionais empresas aeroagrícolas do país: Charles Chalkling S/A (que existe desde 1948), Bueno Servicios Aereos (fundada há mais de 30 anos) e 20 Léguas S/A (fundada em 2009). Isso porque lá a temporada de incêndios em vegetação normalmente coincide com a época de operações em lavouras. De modo que o maior emprego de aeronaves contra o fogo (que é a necessidade do momento) depende dos aparelhos poderem revezar rapidamente com os trabalhos de semeadura e dispersão de adubos em plantações – sem a necessidade da troca da comporta para o lançamento preciso de sólidos.

Conforme o coordenador de Negócios Internacionais da empresa brasileira, Lucas Zanoni, a melhoria não só deu a versatilidade multimissão necessária para os aparelhos, como também aperfeiçoou a capacidade contra incêndios. “Com o controle de fechamento, além do ataque direto às chamas (com a abertura total e o lançamento de toda carga de água de uma vez), agora é possível fazer um lançamento gradual, atacando uma linha de fogo ou fazendo um aceiro”, explica Zanoni.

O empresário destaca que esse é um diferencial importante sobre comportas hidráulicas longitudinais importadas. Segundo ele, estas funcionam para os lançamentos contra chamas e são compatíveis com o sistema das barras de pulverização (sob as asas) de líquidos em lavouras. Porém, precisam ser retiradas para a instalação do sistema de aplicação de sólidos.

CAPACIDADE: novo sistema de comportas da Zanoni não só garantiu agilidade no revezamento com as missões de semeadura, como tornou mais efetivos os lançamentos contra chamas – foto: Zanoni Equipamentos/divulgação

 

LA NIÑA

O terceiro ano consecutivo do fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Oceano Pacífico, que diminuem as chuvas no continente) trouxe também a maior estiagem em 40 anos ao nosso vizinho do sul. “Semelhante às secas de 1988 e 1989, mas com calor mais intenso”, assinalou o ministro de Gado, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, em uma entrevista coletiva no último dia 10.

A situação dos incêndios em lavouras e matas no Uruguai vem se arrastando desde outubro, quando iniciou o período de estiagem. Porém, segundo o Sistema Nacional de Emergências do país (Sinae), o período de seca que deveria terminar agora em janeiro promete se arrastar até abril. O que fez o governo local estender até lá do período de emergência agropecuária no território uruguaio.

Só na primeira semana de 2023, os serviços de emergência chegaram a detectar mais de 20 incêndios por dia em vegetação. O que é muito, considerando que território uruguaio tem área consideravelmente menor do que o Estado do Rio Grande do Sul (176.215 km2 contra 281.748 km2). Isso resultou inclusive em uma oferta de ajuda dos Estados Unidos, que prometeu enviar mais de 1 milhão de dólares em equipamentos ao país. Um pacote que inclui 120 trajes de proteção contra incêndios e 40 equipamentos de respiração autônoma, além de quatro bambi bucket (para lançamento de água por helicópteros) e equipamentos hospitalares.  

Paralelamente, a Associação Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas uruguaia (Anepa) vem incentivando o governo a também apostar na ferramenta aéreas nas ações emergenciais contra o fogo. Enquanto isso, assim como aconteceu no Brasil, o despertar do uso de aeronaves agrícolas contra incêndios vem ocorrendo por iniciativa dos produtores rurais – para proteção tanto de lavouras quanto de reservas naturais em suas terras. Semelhante ao sistema de brigadas aéreas contra as chamas que há alguns anos surgiram no Brasil. 

Comments

wonderful comments!