27 de abril de 2023

Nota de repúdio contra Agência Pública e Lighthouse Reports

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Sindag repudia reportagem veiculada e distribuída pelas agências brasileira e inglesa claramente forçando e generalizando vínculo entre o setor e casos de contaminação de alimentos

O Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) manifesta seu repúdio à reportagem veiculada e distribuída nesta terça-feira (25), pela Agência Pública e pela inglesa Lighthouse Reports, generalizando de maneira forçada e irresponsável a ligação entra a aviação agrícola brasileira a casos de contaminação em São Paulo. Mais ainda, sugerindo que “chuvas de agrotóxico” provocadas pela ferramenta aérea estejam colocando em risco a segurança de populações no País e produtos alimentícios comercializados na Europa.

Ao invés de informar e lançar luz sobre todos os aspectos de um debate tão sério quanto a segurança alimentar e ambiental, a matéria se esforça apenas em reforçar um preconceito histórico – no Brasil, largamente aproveitado em discursos políticos contra o agronegócio e, na Europa, também usado (por falta de conhecimento ou não) para defender interesses em nível de comércio internacional.

A tal ponto que a própria parceira inglesa da Agência Pública ilustrou sua reportagem com a imagem de um avião agrícola despejando água – feita em uma demonstração de combate a incêndio florestal ocorrida no Mato Grosso. Um tipo de operação onde a aeronave lança de uma vez toda a carga (de água) sobre as chamas, para proteger reservas naturais e garantir a segurança dos bombeiros em solo. Deturpando uma realidade das aplicações em lavouras, que são feitas pelas barras sob as asas e em voos onde aeronave aplica cerca de 20 litros de produto por hectare.

Aliás, a foto foi feita justamente em um Estado onde o setor aeroagrícola todos os anos tem participação efetiva na proteção do próprio bioma amazônico contra as chamas.  Deturpação semelhante ao episódio ocorrido em novembro de 20201, quando a Agência Pública manipulou a foto de abertura de uma reportagem sobre desmatamento, fazendo parecer que um avião agrícola estava jogando agrotóxicos sobre a floresta amazônica. Bem como no episódio em que a Agência, em outubro do ano passado, falseou a relação causa/consequência com o objetivo de lincar a aviação agrícola à incidência de câncer em cidades paulistas

FORÇANDO O MITO: a foto usada pela agência Lighthouse Reports para mostrar a “chuva de veneno” é, na verdade, a imagem de uma demonstração de combate a incêndio ocorrida no Mato Grosso, onde o avião joga toda a carga d’água de uma vez contra as chamas na floresta. Ao contrário da aplicação de defensivos, onde o produto é aplicado por um sistema de barras sob as asas, em uma vazão que chega a 20 litros por hectare (equivalente a 2 ml por metro quadrado)

Quanto à mão brasileira da reportagem, esta também ignora o fato de que os riscos nas aplicações de agrotóxicos (químicos ou biológicos) são exatamente os mesmos inerentes a todas as ferramentas, sejam terrestres ou aéreas – desde pulverizadores costais (aquelas “mochilas” em que o aplicador vai a pé pela lavoura), passando pelos tratores, aviões ou drones. Inclusive o de deriva, que é quando o produto se desvia do alvo e que ocorre sempre que não são observados os parâmetros climáticos adequados (velocidade do vento, umidade do ar e temperatura ambiental).

Além disso, no caso dos aviões, durante os voos de translado (o deslocamento da base para a pista na lavoura), eles voam vazios. E, durante as aplicações, o sistema de barras tem pressão negativa sempre que fechado entre uma faixa e outra – ou seja, junto com a vedação dos bicos, há ainda uma força de sucção que reforça a segurança contra perda de gotas). Até porque, com a carga do avião muitas vezes representando o preço de um carro de luxo, se houvesse desperdício por parte dos aviões o próprio mercado teria extinguido a aviação agrícola.

Some-se a isso o fato de que, no Brasil, a aviação agrícola é a ÚNICA ferramenta para o trato de lavouras com regulamentação específica e ampla. Que, por exemplo, exige treinamento especial para seus pilotos (onde ter licença de piloto comercial e somar pelo menos 370 horas de voo é apenas o pré-requisito de entrada). Isso além da obrigatoriedade de cada operação ser coordenada por um engenheiro agrônomo e ter, na equipe de terra em campo, um técnico agrícola com especialização em operações aéreas.

A aviação também é a ÚNICA ferramenta sobre a qual há a exigência de um pátio de descontaminação para limpeza de equipamentos e da aeronave – onde toda a água da lavagem vai para um sistema de tratamento de efluentes, protegendo o meio ambiente e as pessoas. Lembrando que os produtos utilizados pela aviação são os mesmos aplicados também pelos pulverizadores terrestres.

Obrigações que, ao invés de combatidas, são celebradas pelo setor como credenciais de sua segurança. Mais ainda, são complementadas por programas próprios do Sindag e do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) voltados para melhoria contínua – caso, por exemplo do MBA em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola e do programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA Brasil).

Quanto aos casos de possível contaminação por aplicações, justamente o setor aeroagrícola é o que possibilita mais claramente estabelecer se a causa do problema em cada situação foi ou não aplicação aérea. Da mesma forma que deve ser considerado o fato de que a ferramenta aérea é sempre vista, muitas vezes sofrendo por sua própria transparência.

Como no próprio caso de Buriti, no Maranhão – mencionado na reportagem. Onde o inquérito policial de mais de 1 mil páginas constatou a única aplicação de agrotóxicos próxima às comunidades havia sido feito por equipamento terrestre. Além disso, os infectologistas e outros agentes de saúde contataram que os casos de lesões de pele na verdade foram causados por um surto de sarna no local.

No caso dos registros das operações aeroagrícolas, além do resumo enviado mensalmente ao Ministério da Agricultura (que está justamente reformulando o sistema de recebimento, para poder processar esses dados), a documentação completa de cada operação fica na empresa, por dois anos obrigatoriamente à disposição de qualquer fiscalização – outro fator de transparência que só a aviação tem.

 Isso ficou claro em um encontro promovido pelo Ministério Público Estadual em setembro de 2002, em Piracicaba/SP. Apesar do foco inicial ter sido a aviação agrícola, os promotores paulistas constataram que o problema não é a ferramenta de aplicação, mas como o produto é aplicado (lembrando que os fatores de risco são inerentes a todos os tipos de equipamentos. E o próprio Sindag tem incentivado a fiscalização, como uma forma justamente de combater os mitos contra o setor.

A reportagem da Repórter Brasil e sua parceira europeia também gera indignação por associar o setor aeroagrícola a um “lobby tóxico” para defender atividade. Apresentando como nexo o fato de que a pulverização aérea ser proibida na Europa e, no Brasil, em “poucos municípios e apenas um Estado, Ceará” (justamente casos em que os mitos prevaleceram sobre a racionalidade).

Aliás, é um contrassenso gigantesco o discurso tentando associar casos de contaminação justamente à única ferramenta com legislação específica, que gera registros de todas as suas operações e onde praticamente todos os atores são técnicos. Mais do que isso, que está sempre à vista quando em campo e permanece o tempo todo ao alcance das autoridades.

Ainda mais tendo em vista, por exemplo, os dados do Censo Agro 2006, do IBGE: mostrando que, naquele ano, foram realizadas aplicações com pulverizadores costais em 973.444 propriedades rurais, ao passo que em 379.477 as pulverizações de agrotóxicos foram feitas com tratores e em 10.043 propriedades as aplicações foram realizadas por aviões (veja AQUI, na Tabela 2.2.11 – página 539).

Mesmo o Censo Agro 2006 tendo sido o último a esmiuçar nesse nível essas informações, o despropósito da “surpresa” manifestada na matéria sobre a aviação agrícola (um setor altamente técnico) não ser proibido no Brasil fica latente também no resultado do Censo Agro 2017. Naquele ano, de acordo com a pesquisa, 15,6% dos produtores que utilizaram agrotóxicos no Brasil não sabiam ler e escrever e, destes, 89% declararam não ter recebido qualquer tipo de orientação técnica. Dos produtores alfabetizados que utilizam agrotóxicos no País, 69,6% possuíam no máximo o ensino fundamental e, entre eles, apenas 30,6% declararam ter recebido orientação técnica a respeito da aplicação do produto.

Por fim, o próprio comparativo direto estre as realidades da Europa e do Brasil acaba sendo um disparate. Especialmente pelas características do clima – que reduz exponencialmente a pressão de pragas sobre as culturas. Ao contrário da agricultura tropical do Brasil, onde se consegue três safras por ano. Além disso, o tamanho das propriedades rurais no Velho Continente não é propício a uma viação agrícola forte.

Embora já haja uma tendência à presença cada vez maior de drones de pulverização, que começam a ser autorizados, por exemplo, na Espanha. E sem falar que os casos em que pulverizações aéreas recebem autorização na Europa incluem o combate a mosquitos. Não só para prevenção de doenças, mas também para evitar que o ataque de pernilongos afugente visitantes de pontos turísticos. Por último, vale lembrar que o continente europeu, que tem um dos mais rígidos controles no mundo sobre resíduos de agrotóxicos nos alimentos, é o segundo principal destino internacional de produtos do agro brasileiro.

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