15 de agosto de 2023

AvAg 76 anos: Sindag inicia série sobre o aniversário do setor no País

O Sindag inicia hoje uma série de cinco matérias diárias para marcar a semana dos 76 anos do setor aeroagrícola no Brasil. Festejando o voo realizado em Pelotas e que, em 1947, marcou o início da trajetória de uma ferramenta que não só se tornou essencial para a produtividade e a sustentabilidade da agricultura brasileira, como é protagonista na proteção de lavouras e biomas contra incêndios em vegetação.

Para isso, de hoje até o próximo sábado, dia 19 – quando se comemora o Dia Nacional da Aviação Agrícola, a página vai falar sobre o surgimento da aviação agrícola no mundo, a praga que determinou seu batismo em terras brasileiras e que ainda hoje é preocupação para a ONU, o avião da primeira operação, os personagens daquele agosto de 47, como foi a primeira operação, como o Brasil se tornou a segunda maior potência mundial no segmento e seus desafios.

Começando por:

O surgimento do setor no mundo

Quando a aviação agrícola brasileira surgiu, a ferramenta já tinha seus 26 anos de operação no mundo. Sua estreia foi em 3 de agosto de 1921, perto da cidade de Dayton, no Estado norte-americano de Ohio. Foi em um experimento do Departamento de Agricultura de Ohio e Divisão de Engenharia do Serviço Aéreo do Exército dos EUA – na época, a Força Aérea do país (USAF) ainda não existia como tal. Em uma operação para combater lagartas em uma floresta comercial de catalpa, perto de Dayton, no Estado norte-americano de Ohio. 

Mas mesmo o primeiro voo nos Estados foi o resultado de uma longa gestação, que também veio de outros países. 

A primeira iniciativa de usar ferramenta área na agricultura foi em uma semeadura de arroz, em 1906. Quando o agricultor John Clervaux Chaytor, então com 70 anos, usou um balão de ar quente para semear arroz em uma fazenda no vale do Rio Wairau, região de Marlborough, nordeste de South Island. Além de atender a terceiros, ele também usava o balão para semear pastagens nas terras da família.

SEMEADURA COM BALÃO: técnica que marcou a era pré-história da aviação agrícola

Depois disso, em  1911, o inspetor florestal (Oberförster) alemão Alfred Zimmermann, de Detershagen – uma comunidade rural que hoje pertence ao município de Burg, no Estado da Saxônia-Anhalt, teve a ideia de dotar aviões com um sistema de pulverização para combater pragas de lagarta freira em pinheirais em seu país. Embora nunca tenha executado a ideia, em 29 de março de 1911 ele pagou 97 marcos (moeda alemã) para encaminhar o registro de sua ideia junto ao Escritório Imperial de Patentes (o Kaiserliches Patentamt), em Berlim. Zimmermann se tornava ali o pai da aviação agrícola e a certidão de nascimento (registro da patente) foi concedia em 17 de maio de 1912.

Alfred Zimmermann

Segundo o texto do projeto patenteado, “não é necessário nenhum tipo de aeronave especial ou cara para realizar o método, uma vez que (a técnica) só é usada em tempo calmo, com velocidade moderada e não é preciso atingir altura significativa. O produto que destrói a lagarta-freira pode ser armazenado em recipiente especial na nacele da aeronave. Os recipientes são devidamente equipados com atomizadores, por meio dos quais o líquido pode ser distribuído como uma névoa em grandes áreas da copa das árvores. O interior desses atomizadores pode ser configurado de forma que sejam movimentados pelo motor que aciona as hélices da aeronave.”

Embora Zimmermann tenha tentado fazer testes de aplicações a partir de 1913, no ano seguinte tudo acabou suspenso pelo início da Primeira Guerra Mundial. O conflito duraria até 1918, deixando a Alemanha em ruína financeira. Zimmermann sobreviveu a tudo, mas não retomou os testes depois da guerra. Ele faleceu em 1964, aos 88 anos.

102 anos do batismo do avião nos EUA

A primeira operação de aviação agrícola no mundo surgiu a partir da carta do agricultor Harry Carver, pedindo socorro ao Departamento de Agricultura de Ohio. Ele tinha uma fazenda a oeste de Troy com o plantio comercial de cerca de 5 mil árvores de catalpa. E entrou em contato com a Estação Experimental do Estado na cidade de Wooster, dizendo que suas árvores estavam infetadas de lagartas e ele não sabia como controlar a praga. A Estação de Wooster respondeu por telegrama e enviou dois especialistas à fazenda.

Depois de uma vistoria nas árvores desfolhadas, eles constataram que se tratava de uma infestação de lagartas-esfinge catalpa – um de praga que só ataca esse tipo de árvore. Os técnicos explicaram ao produtor que as folhas das árvores que sobreviveram voltariam a crescer, mas que os insetos também voltariam na temporada seguinte. Daí a necessidade de se preparar uma ação de combate à praga antes que sua voracidade causasse mais perdas.

PIONEIROS: Dormoy (de gravata) e Macready junto ao Curtis JN-6 Super Jenny usado na primeira operação aeroagrícola…

Em meio às conjecturas na Estação Experimental, veio a ideia de se testar o uso de avião para uma aplicação de inseticida sobre as árvores. O Estado pediu então apoio da Divisão de Engenharia do Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos, no Campo McCook, em Dayton (a 35 quilômetros de Troy). McCook era um local de testes e aperfeiçoamento da aviação, onde o governo desenvolvia novas técnicas e tecnologias para o setor.

A primeira operação de aviação agrícola no mundo teve como piloto o então tenente John Arthur Macready, da Aviação do Exército dos EUA, na época com 33 anos de idade. Ele estava acompanhado do engenheiro francês (naturalizado norte-americano 12 anos depois) Etienne Dormoy, de 36 anos, que criou e operou o aparelho pulverizador (movido a manivela) acoplado na lateral da fuselagem do avião.

Era a manhã do dia 3 de agosto de 1921, quando Macready e Dormoy se deslocaram de avião até a fazenda perto de Troy, onde o avião foi carregado e preparado para a missão. À tarde, eles decolaram para a primeira aplicação aérea da história, feita em cerca de 14 hectares da floresta comercial. Eles testaram passagens entre 2 metros e 7 metros acima das árvores. Nos dias seguintes, no acompanhamento dos resultados, os técnicos constataram a eficiência da técnica contra a praga.

O relatório da operação foi publicado no ano seguinte,
no Boletim da Estação Experimental de Ohioclique AQUI para ver  

OS PERSONAGENS
Nascido em Vandoncourt, no oeste da França, Étienne Dormoy. se graduou engenheiro em 1906 e trabalhou na fabricação de aeronaves em seu país, além de ter sido piloto da Força Aérea Francesa nos dois primeiros anos da Primeira Guerra Mundial. Em 1917 ele participou de uma missão francesa aos Estados Unidos, para ajudar o país na construção de aviões, dentro do esforço aliado de guerra. Terminado o conflito, na Europa em 1918, o engenheiro acabou ficando nos EUA e, em 1920, entrou para o Corpo Aéreo do Exército Norte-Americano indo trabalhar no Campo McCook.

Com o desafio de preparar um sistema para uma pulverização agrícola por avião – o que era novidade no mundo até então, ele acabou desenhando e preparando um sistema movido a manivela, operada manualmente pelo passageiro do avião. Dormoy faleceu em 1959, aos 74 anos.

Já para o tenente John Macready, o voo baixo para combater pragas em árvores estava longe da sua rotina, já que sua principal missão era testar turbo-compressores em altas altitudes. Tanto que, dias depois do primeiro voo agrícola no mundo, John Macready estabeleceu um novo recorde de altitude para a época, chegando 34.509 pés (pouco mais de 10,5 mil metros). O que deu a ele o primeiro de seus três Troféus Mackay – concedido anualmente aos pilotos americanos por feitos inéditos na aviação. As outras duas vezes em que ele recebeu a distinção foi por estabelecer um recorde mundial de resistência. Aliás, ele foi a única pessoa a ganhar três vezes o prêmio.Prim

eiro, voando 35 horas, 18 minutos e 30 segundos. Foi em 5 de outubro de 1922 e ele voou junto com o tenente Oakley G. Kelly. O último troféu foi pelo primeiro voo sem escalas de costa a costa dos EUA, de Roosevelt Field, em Long Island (estado de Nova York), até Rockwell Field, em San Diego, Califórnia, com um tempo de 26 horas, 50 minutos e 48 segundos. O voo também estabeleceu um novo recorde de distância para um único voo de cross-country, 2.625 milhas.

John Macready também participou da Segunda Guerra Mundial, já como coronel e no comando de grupos de aviação no front. Ele aposentou em 1948 e integra o Hall da Fama da Aviação dos EUA. O piloto faleceu em 1979, aos 92 anos.

 

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