Alimentos orgânicos e a concepção errada do risco zero ou segurança absoluta

Alimentos orgânicos e a concepção errada do risco zero ou segurança absoluta

Muitas das definições de alimento seguro são dadas a partir de uma percepção errada de risco
zero, ou seja, um alimento seguro seria àquele que não oferece nenhum tipo de risco e
normalmente está vinculada aos sistemas de produção de alimentos orgânicos. Um dos riscos
mais comumente associados com alimentos orgânicos é o da contaminação biológica. Assim,
vários surtos de intoxicação com bactérias ou toxinas produzidas por bactérias são conhecidas
em todo o mundo.
Entre os muitos exemplos, podemos citar o surto da bactéria Escherichia coli, cepa
0157:H7,que produz uma toxina altamente tóxica, em batata, alface e hortaliças orgânicas nos
EUA em 1995 e 1996. De acordo com o Centro de Controle de Doenças dos EUA, a mesma
bactéria causou um surto de intoxicações em 206 pessoas com a ingestão de espinafre
orgânico, sendo que 103 tiveram que ser hospitalizadas e 3 vieram a óbito. Em 2011, este
Centro reportou casos de intoxicação com Salmonella enteridis em ovos orgânicos. Ainda
afirma que a taxa de recall de alimentos orgânicos nos Estados Unidos é oito vezes maior que
qualquer outro tipo de alimento devido à contaminação microbiológica. Num total de 349
recalls ocorridos em 2011, a metade ocorreu com alimentos orgânicos devido à contaminação
com Salmonella e Listeria monocytogenes. Já na Europa relatórios oficiais mostram surtos de
intoxicação com a bactéria Citrobacter associada com salsa e de E.coli, cepa 0104:H4 com
mais de 4.000 pessoas intoxicadas e cinquenta mortes. Trabalhos científicos comprovam que
sistemas de compostagem de adubos orgânicos não são tão eficientes na eliminação da
bactéria Clostridium botulinum, que produz a toxina botulínica considerada a mais tóxica
substância para o homem. Estudos na Dinamarca mostram que 100% das amostras de
produtos de sistemas avícolas orgânicos estavam contaminadas com Campylobacter, enquanto
contra 36-49% dos sistemas convencionais. Em resumo, não há nenhuma informação científica
convincente mostrando que os alimentos orgânicos não possam estar contaminados com
microrganismos patogênicos ou produtores de toxinas. Os dados até provam o contrário.
Uma aparente vantagem dos sistemas orgânicos que não utilizam produtos fitossanitários,
pode se tornar um problema, pois neste caso, as plantas não protegidas, produzem
quantidades muito maiores de metabólitos com propriedades tóxicas para pragas e doenças,
mas também ao homem, pois existe farta publicação científica comprovando seus possíveis e
potenciais efeitos mutagênicos, carcinogênicos, teratogênicos. Outro risco associado é o da
presença de micotoxinas, uma família de substâncias naturais produzidas por fungos,
altamente tóxicas. O fato de não se usar fungicidas para o controle de doenças fúngicas pode
estar associado a maiores níveis das mesmas. Neste sentido, inúmeros estudos comprovam
que a contaminação de alimentos orgânicos com micotoxinas é muito maior do que em cereais
produzidos em sistemas que usam fungicidas. Estas micotoxinas são embriotóxicas,
mutagênicas, teratogênicas, carcinogênicas.. Ainda este ano, a Agência de Proteção Ambiental
Americana (EPA) publicou resultados de avaliação de resíduos de produtos fitossanitários em
vários tipos de alimentos orgânicos, tendo sido encontrada a presença destes produtos em um

percentual elevado das amostras. Estudos também comprovam maiores níveis de
contaminação de alimentos orgânicos com nitratos, devido ao uso mais intensivo de
fertilizantes desta natureza. Na dieta humana, 80 % do que se ingere de nitratos é fornecido
por hortaliças e legumes, enquanto que seu teor em frutas e cereais é muito baixo. Os nitratos
no organismo humano geram uma gama de nitrosaminas altamente mutagênicas e
carcinogênicas, cuja ingestão pode estar associada com câncer do sistema digestivo.
A disseminação de inverdades, conceitos sem base científica e o ataque à imagem de outros
sistemas de produção que se observa no País por aqueles que defendem o sistema orgânico,
ferem o Direito instituído em Lei, que a decisão de compra do consumidor seja pautada em
informações tecnicamente e cientificamente corretas, para que ele possa exercer o seu livre
arbítrio.