O PAPEL AMBIENTAL DA LAVOURA ARROZEIRA – UM ECOSSISTEMA CICLADOR DE NUTRIENTES E PURIFICADOR DA ÁGUA

Segundo a EMBRAPA, mais de 66% do território brasileiro é coberto por vegetação nativa e a área ocupada pelas lavouras é de 7,8%. Os EUA mantêm apenas 19,9% da sua vegetação nativa e 17,4% do seu território ocupado com lavouras. Isso mostra claramente que as informações tão propaladas pela mídia, de que o agronegócio é depredador e poluidor do meio ambiente, são uma grande falácia.

É inegável o importante papel do sistema produtivo orizícola na reservação de água. Uma água que, em poucas horas ou dias estaria no mar, fica retida em reservatórios e, de forma lenta e gradual, reabastece os recursos hídricos, seja por percolação ou após irrigar a cultura do arroz. É água armazenada para as gerações futuras!

Existem regramentos bastante rígidos sobre a atividade de irrigação, a qual obrigatoriamente precisa ser licenciada tanto no RGS como em SC e, além disso, as embalagens vazias dos agroquímicos utilizados nas lavouras são enviados para centrais licenciadas ambientalmente (Resolução 334 do CONAMA).

Ao percorrer uma lavoura, vemos uma imensa quantidade de anfíbios, aranhas, pássaros (alguns nidificando) e insetos. Alguns trabalhos científicos mostram que a lavoura de arroz, apesar de temporária, abriga um grande número de animais silvestres, podendo ser considerada como um ecossistema sazonal.

A Estação Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, no Município de Capão do Leão, monitorou uma grande diversidade de aves que habitam temporariamente as várzeas cultivadas com arroz irrigado, registrando a presença de 55 espécies. Também verificou que, nas várzeas subtropicais dos Estados do RS, SC e PR, existe uma grande diversidade de microrganismos, plantas e animais. Ou seja, as várzeas subtropicais, apresentam uma condição privilegiada em relação à disponibilidade de recursos hídricos, proporcionando um habitat natural para uma grande diversidade de espécies e de populações.

A qualidade ambiental da lavoura de arroz também pode ser avaliada usando-se alguns organismos e microrganismos sensíveis às perturbações ambientais, chamados de bioindicadores. As pesquisadoras Colpo, Brasil e Camargo (2009) compararam a qualidade da água que sai de uma área de arroz irrigado com a água que entra na lavoura e verificaram a existência de uma comunidade biológica mais estruturada e complexa no canal de drenagem da lavoura do que no canal de irrigação com água bombeada do Rio Gravataí.

Ficou latente nessa pesquisa que a qualidade ambiental é melhor no ponto de saída da água da lavoura do que nos pontos de entrada da água. A pesquisa fundamentou o produtor já sabia em sua sapiência nata: os efluentes produzidos pelas cidades e indústrias são muito mais agressivos aos ambientes aquáticos do que os efluentes drenados de uma lavoura que foi manejada de acordo com as recomendações técnicas para a cultura.

As raízes das plantas de arroz também purificam a água! Em conjunto com outros fatores do ambiente alagado, as raízes da planta de arroz são importantes fatores de seleção de populações bacterianas em águas superficiais. A água de drenagem das lavouras apresenta menor quantidade de bactérias patogênicas, pois ocorre uma interação entre os microrganismos da água da lavoura e as plantas de arroz que agem como filtros de microrganismos patógenos. Esse ambiente alagado também age como reciclador dos insumos químicos usados nas lavouras. Com isso, o impacto ambiental nas áreas onde existem esse sistema produtivo é minimizado (MIKI; YAMAMURA, 2005; COMTE et al. 2006; DOCHERTY et al. 2006; NEBEL et al. 2007; RECHE; PITTOL; FIUZA, 2010; CAMARGO, 2010; FRIZZO, 2007).

Na Planície Costeira do Sul do Brasil foram realizadas pesquisas usando bioindicadores turbelários (comumente chamadas planárias) para verificar a qualidade ambiental nas lavouras de arroz da região (Cachoeirinha, Santo Antônio da Patrulha e Camaquã). Dionéia Vara e Ana Maria Zanchet (2013) verificaram que a lavoura de arroz pode exercer um importante papel na conservação da biodiversidade aquática, registrando 144 espécies de turbelários, sendo 23 espécies registradas pela primeira vez no RS, o que indica uma elevada riqueza de espécies de turbelários nas áreas do estudo.
Esses e outros estudos devem ser usados para desmistificar a imagem do produtor como um poluidor e que as lavouras trazem impactos ambientais negativos. É necessário que as entidades se envolvam mais com pesquisas nesse sentido e que a população e as autoridades sejam informadas do importante papel ambiental, social e econômico da atividade orizícola.