Resíduos de produtos fitossanitários em alimentos: entendendo o seu significado-primeira parte.

Resíduos de produtos fitossanitários em alimentos: entendendo o seu significado-primeira parte.

Nos últimos anos a mídia em geral no Brasil e àqueles que se opõem ao agronegócio brasileiro, tem divulgado notícias sobre a contaminação de alimentos com resíduos de produtos fitossanitários, notadamente em hortaliças e frutas. Estas notícias por muito tempo levaram a um cenário de caos para a sociedade por se basearem em dados  divulgados pelo Programa de Análise de Resíduos em Alimentos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

O PARA é um trabalho conduzido em conjunto entre a ANVISA e a Vigilância Sanitária nos Estados e foi iniciado em 2001, como uma das ações do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária para a garantia da qualidade dos alimentos. Todas as análises são feitas por laboratórios qualificados que compreendem a rede LACEN e tem como objetivo monitorar os níveis de resíduos de produtos fitossanitários em frutas e hortaliças ao nível de varejo e a análise é feita pelo Método Multiresíduo que permite analisar simultaneamente resíduos de vários produtos diferentes. Entre 2002 e 2012 foram analisadas 19.407 amostras em mais de 20 diferentes culturas, como o alface, o abacaxi, o mamão,morango,tomate,pimentão,banana,arroz,cebola,batata,repolho,tomate, uva, cenoura, manga, couve, pepino, beterraba e feijão.

Os resultados foram repassados para a mídia na forma do percentual de amostras insatisfatórias por cultura, entendendo-se como insatisfatórias àquelas que apresentavam resíduos de produtos fitossanitários de uso não autorizado na cultura, amostras com valor de resíduo acima do seu Limite Máximo permitido em Lei, ou ambas as situações simultaneamente numa mesma amostra.

Desta forma, criou-se uma situação onde as notícias apresentavam estes dados com valores alarmantes tais como pimentão com 89% das amostras insatisfatórias, cenoura 67%, pepino 44%,morango 59% entre tantos outros valores divulgados ao longo dos últimos anos à medida que os Relatórios do PARA iam sendo publicados. Como a Imprensa ajuda a criar esse desvio de informação, procurando produzir mensagens negativas, que rendem Ibope e venda, o consumidor brasileiro passou a fazer uma associação totalmente errada entre estes valores e a sua percepção de que as frutas e hortaliças, nestas condições, estavam representando séria ameaça a sua saúde.

Ou seja, criou-se um cenário de percepção equivocada de risco e julgamento no cidadão comum que não tem conhecimentos suficientes para um entendimento e análise correta do mesmo, pois na verdade, não existe nenhuma relação entre estes tipos de dados e provável risco à saúde do consumidor.

Não obstante e, independente deste conhecimento, setores oportunistas aproveitaram-se desta divulgação para adquirem algum tipo de vantagem ou para atacarem os produtores de frutas e hortaliças tradicionais, pois defendem por motivos ideológicos, outros sistemas de produção que já é cientificamente comprovado que não oferecem melhor qualidade ou segurança ao consumidor em relação aos sistemas de produção tradicionais.

Além disto, podemos destacar que se gerou um desgaste injusto na imagem de diferentes cadeias produtivas que foram responsáveis em 2012, segundo dados da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSM) por um valor total R$ 14 bilhões ao nível do produtor e de R$ 53 bilhões ao nível de varejo e respondendo por dois milhões de empregos diretos, uma média de 2,4 empregos/ha. Outro aspecto importante diz respeito à própria saúde, onde de acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma ingesta adequada de frutas e hortaliças pode evitar 19% dos cânceres, 31 % das cardiopatias isquêmicas e 11% dos acidentes vasculares cerebrais. A ingesta de frutas e hortaliças pela população brasileira está abaixo do valor mínimo preconizado pela OMS. Assim sendo, estamos publicando na sequência uma série de artigos aprofundando e tratando melhor este tema de natureza complexa e que diz respeito a todos nós consumidores, não se esquecendo de que o produtor também consome o que produz.

 

 

*Professor Titular Aposentado de Toxicologia, Ecotoxicologia e Toxicologia de Alimentos em cursos de Agronomia, Engenharia Ambiental, Farmácia, Engenharia de Alimentos e Medicina Veterinária em várias Instituições de Ensino Superior no Rio Grande do Sul. Atualmente consultor na área.