Sobre o uso crescente de agrotóxicos e evolução da produção agrícola no Brasil

É “lugar comum”, nas manifestações daqueles que são contrários ao uso de agrotóxicos, afirmar que “Cada brasileiro CONSOME ‘x’ litros de agrotóxico por ano“. Como se a totalidade dos agrotóxicos aplicados nas LAVOURAS brasileiras (estas sim as reais consumidoras daqueles produtos), fosse parar diretamente nos copos e pratos da população. Falar em consumo de agrotóxico “per capita” não faz qualquer sentido. Faria sentido se se tratasse de medir o consumo de vinho, de leite, refrigerantes ou cervejas.

Para fazer sentido, o consumo de agrotóxicos deve ser medido em relação à ÁREA CULTIVADA e à PRODUÇÃO AGRÍCOLA e, não, em relação à população do país.

O Brasil é o segundo maior produtor de alimentos no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos. E a área cultivada no nosso país mantém-se em ritmo crescente ano a ano, assim como a produtividade agrícola, esta graças ao incremento da tecnologia de produção.

É coerente, portanto, que, para atingir e aumentar os índices de produtividade em área tão extensa, seja também crescente o uso de insumos modernos, como agrotóxicos, fertilizantes, sementes certificadas, etc.

Conforme informa a ABRASCO – Associação Brasileira de Saúde Coletiva – em seu conhecido e denso “Dossiê”, no período de 2002 a 2011 o consumo de agrotóxicos no Brasil cresceu 42% (599,5 milhões de litros em 2002 e 852,8 milhões de litros em 2011).Tal crescimento nominal, de 42%, tem sido considerado pela ABRASCO e outras entidades como um acontecimento catastrófico e alarmante. No entanto, para contextualizar melhor o aumento do consumo de agrotóxicos é necessário levar em conta aquelesoutros dois fatores cruciais (deixando de lado o número de habitantes, que não tem nada a ver com o caso, como já citado). São eles a EVOLUÇÃO DA ÁREA CULTIVADA e a EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA.

Segundo os dados do IBGE (Sistema SIDRA), a área cultivada com culturas permanentes e temporárias – hortifrutigranjeiros não incluídos- cresceu 25%, no período de 2002 a 2011 (54,5 milhões de hectares em 2002 e 68,1 milhões de hectares em 2011). Portanto, se levado em conta o aumento da área cultivada, o crescimento do consumo nominal de agrotóxicos – por área plantada – já seria de somente 13;6% (11 litros / hectare em 2002 e 12,5 litros / hectare em 2011).

Há, porém, ainda, que levar em conta, na análise do caso, a evolução da PRODUTIVIDADE daquelas culturas, no mesmo período.

Usando os mesmos dados do IBGE, verifica-se que o aumento de produtividade (2002-2011) foi de 45;7% (9,8 ton /ha em 2002 e 14,4 ton / ha em 2011). Como consequência da combinação do aumento da área e do aumento da produtividade, o aumento da PRODUÇÃO foi de 82,2% ! (538,4 milhões de toneladas em 2002 e 981,2 milhões de toneladas em 2011).

Portanto, o aumento de consumo absoluto de agrotóxicos foi plenamente compensado pelo aumento da produção agrícola, para o qual, aliás, os agrotóxicos são, inquestionavelmente, fator contribuinte relevante, ao lado de outros avanços tecnológicos.

Tal compensação se evidencia ao se correlacionar o consumo de agrotóxicos com a produção agrícola, como demonstram os números a seguir:

Consumo de agrotóxicos em 2002: 599.5 milhões de litros. Produção das lavouras temporárias e permanentes em 2002: 538,4 milhões de toneladas. Litros agrotóxicos / tonelada de produto agrícola em 2002: 1,11.

Consumo de agrotóxicos em 2011 : 852,8 milhões de litros. Produção das lavouras temporárias e permanentes em 2011: 981,2 milhões de toneladas Litros agrotóxicos / tonelada de produto agrícola em 2011: 0,87.

Portanto, se adotarmos como parâmetro “litros de agrotóxico por tonelada produzida”, houve na verdade uma REDUÇÃO relativa, de 21,6% no uso de agrotóxicos entre 2002 e 2011. A Agricultura brasileira produziu mais, com menos. 2011.