31 de janeiro de 2020
ONU deve intensificar operações aéreas contra gafanhotos na África
Segundo a FAO, dada a escala atual do problema, a pulverização aérea é o único meio eficaz para reduzir a praga, que coloca em risco populações de três países
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que sejam necessário US$ 76 milhões para intensificar as operações contra gafanhotos do deserto no Chifre da África. Segundo a Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), “dada a escala atual do problema, a pulverização aérea é o único meio eficaz para reduzir o número de gafanhotos”. O surto é o pior dos últimos 25 anos na Somália e Etiópia e o maior desde 1950 no Quênia. A gravidade da situação e estratégias contra o problema foram tema nessa quinta-feira (30) de uma reunião entre os 191 países membros da FAO. O encontro foi na sede da Agência, em Roma.
Além de ocorrer em uma área historicamente castigada pela fome, há o perigo do problema assumir proporções bíblicas: se a praga não for controlada antes das chuvas de março, as nuvens de insetos correm o risco de se multiplicarem 500 vezes antes da estação seca, que só chega em junho. O avanço da praga já colocou outros quatro países do oeste africano em alerta: Djibuti e Eritreia (que já detectaram insetos em seu território) e Uganda e Sudão do Sul. O crescimento do surto já preocupa também nações do Oriente Médio.
AVANÇO
Os primeiros ataques de gafanhotos ocorreram em pequena escala ainda em julho de 2019, na Etiópia. Apesar de combatidos os insetos acabaram de multiplicando e em dezembro chegaram à Somália e Quênia – onde, em janeiro, chegou a ser detectada uma nuvem cobrindo 40 por 60 quilômetros (2,4 mil quilômetros de área). Considerando os cálculos da FAO, pelos quais uma nuvem de um quilômetro quadrado pode conter 150 milhões de gafanhotos e consumir em um dia alimento suficiente para 35 mil pessoas. A mega nuvem vista no Quênia poderia deixar famintas 85 milhões de pessoas.
Enquanto o site do Ministério da Agricultura do Quênia trata o assunto com uma certa “leveza”, o tema havia ganho repercussão no último final de semana, pela reportagem da agência Associated Press. Segundo a ONU, o gafanhoto do deserto está entre as pragas migratórias mais perigosas do mundo. Um único gafanhoto pode percorrer 150 km e comer seu próprio peso – cerca de dois gramas – em alimentos por dia. Além disso, eles se reproduzem muito rapidamente, se deixados sem controle podem crescer exponencialmente em poucos meses. Por conta disso, pelo menos desde os anos 2000 a aviação agrícola faz parte das estratégias da FAO em ações de emergência contra os insetos.
Em fevereiro do ano passado a ONU já havia emitido alerta para um possível surto de gafanhotos entre o nordeste da África e a Arábia Saudita. Em 2017, o problema foi na América do Sul: em dezembro daquele ano o governo argentino investiu o equivalente a cerca de R$ 1,3 milhão para o combate a gafanhotos na província de Salta. Sem falar que dois meses antes Argentina, Paraguai e Bolívia haviam assinado um acordo para combate à praga região da fronteira entre os três países. E, em fevereiro, a Bolívia havia pedido ajuda à FAO devido ao mesmo problema.
E, ironicamente, foi o combate a gafanhotos na cidade gaúcha de Pelotas que fez nascer a aviação agrícola brasileira, em 19 de agosto de 1947