23 de julho de 2021

Último dia do congresso teve de relações comunitárias a biológicos

Foram 25 palestras em diversos ambientes virtuais, abordando também carreiras no setor, manutenção, gestão, tecnologias e ações de boas práticas

“Hoje em dia, não é mais suficiente a eficiência e o compromisso com boas práticas (operacionais e ambientais). É necessário um certificado invisível de permissão, que vem da sociedade. Para conquistá-lo, é preciso aproximação com a comunidade junto à empresa. Ouvir as carências e ajudar, ser participativo, principalmente com as escolas. Mas com especial foco em crianças e idosos, que são os grupos mais vulneráveis nos países do Mercosul.” Esse foi o tom da palestra do assessor jurídico da Federação Argentina das Câmaras Agroaéreas (Fearca), Gustavo Maron, na quinta-feira (22), último dia do Congresso da Aviação Agrícola do Brasil.

MERCOSUL: ações de aproximação com a comunidade foram destaque na agenda internacional

A quinta teve no total 25 palestras sobre temas desde carreira na aviação agrícola até uso de produtos biológicos. Também registando, mais uma vez, uma grande movimentação nos estandes virtuais. Sobre a palestra do representante da Fearca, ela integrou a programação também do XXIX Congresso Mercosul e Latino-Americano de Aviação agrícola, abrangida pelo evento do Sindag. Com o título Hacia um necessário pacto com la comunidad escolar, o dirigente argentino salientou que a aproximação com as escolas rurais é um dos melhores caminhos para se buscar uma aproximação e diálogo com a comunidade.

 “O ataque que muitas vezes ocorre à atividade aeroagrícola é um efeito colateral de uma coisa muito boa e necessária: o despertar da consciência ambiental. Não é um ataque, é uma pergunta: ‘O que você está fazendo para melhorar o meio ambiente?’  Quando se responde isso à comunidade, e se mostra como, a dúvida cessa, é satisfeita.” Maron destacou exemplos de ações em seu país de visitas de estudantes às empresas aeroagrícolas, para verem de perto como são as rotinas, a tecnologia e a regulação do setor. Além de visitas dos profissionais aeroagrícolas às escolas, para conversar com professores, pais e alunos.

O representante da Fearca também destacou o sucesso da versão em espanhol da Revista Flapinho. A publicação foi uma iniciativa do Sindag, lançada no Brasil para levar informações sobre o setor aos pequenos. O projeto foi cedido à Fearca e à Associação Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas do Uruguai (Anepa), que multiplicaram a iniciativa. Os dois países de língua espanhola também participaram da programação, por conta do XXIX Congresso Mercosul e Latino-Americano de Aviação Agrícola, que também integra a programação promovida pelo Sindag.

BIOLÓGICOS

Sobre os avanços do uso de biológicos, o debate foi mediado pela assessora técnica de Boas práticas e Aplicação do Sindag, Andrea Brondani da Rocha e envolveu o professor Aloisio Coelho Júnior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (Usp), além do gerente de Assuntos Regulatórios do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Fábio Kagi.

Coelho Júnior destacou que o controle biológico ainda tem uma série de mitos, que podem levar a amadorismo e ao prejuízo em seu emprego. Ele ressaltou que não é uma técnica fácil, embora esteja avançando bastante. “Além disso, os agricultores normalmente acham que seria isoladamente uma solução, e não dentro de um conceito de manejo integrado de pragas (MIP).” Ele abordou ainda alguns dos principais agentes produzidos para controle biológico e o avanço das técnicas de aplicação, com uso de drones e cada vez mais agregando a agricultura 4.0 (amostragem de pragas, tecnologias para liberação de inimigos naturais etc.).

AVANÇOS: especialistas apresentaram dados sobre o mercado de biológicos, manejo integrado e o futuro do controle de pragas

O biólogo e doutor em Entomologia lembrou ainda que a área atualmente tratada com produtos biológicos no Brasil é de 10 milhões de hectares. O Brasil tem 70 biofábricas em operação, com uma receita anual de R$ 1,8 milhão. Para completar, o País tem um aumento anual entre 10 e 15% na utilização de biológicos em suas lavouras, o que é acima da média mundial. “No Brasil temos atualmente 423 produtos biológicos registrados”, destacou o professor.  

Kagi destacou que o Sindiveg abrange hoje 28 empresas associadas, entre as que fazem pesquisa e as pós-patente. Ele destacou as diversas frentes de trabalho realizadas pela entidade para promoção do uso correto de defensivos, sejam ele químicos ou biológicos, e destacou aí o curso online elaborado pela entidade – com acesso gratuito pela internet e currículo por etapas. “Quando se pensa no controle de uma praga, pensa-se apenas no ato da aplicação do produto. Isso é apenas o ponto final”, reforçou o executivo, que também é agrônomo e possui MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Projetos. “Antes há muitas outras ações. No momento em que eu tive que controlar a praga, já é um prejuízo – é muito mais caro controlar.”

Kagi também ressaltou que o paradigma ainda é de que o químico funciona e que o biológico é ideal em algumas situações. “Mas tanto os produtos estão melhorando como os resultados corroboram essa mudança.” Mas a relação entre químicos e biológicos “não é de ‘ou’, mas de ‘e’”, resumiu, reforçando que a indústria também entende com necessário o manejo integrado de pragas. E muito estudo. “Se penarmos que há 3 mil fungos e outro tanto de bactérias a serem estudadas, têm-se uma ideia do quanto ainda se precisa de pesquisas”, destacou.

CARREIRAS

Já o bate-papo sobre como para ter uma carreira bem-sucedida na aviação agrícola foi que abriu a programação do dia. Entre as apresentações, o piloto Ricardo Velludo Morandini falou sobre sua trajetória de 32 anos como piloto, 22 deles na aviação agrícola. Filho de piloto agrícola, ele contou de desde cedo convive nesse meio com o irmão, que hoje é piloto de linha aérea. Ele lembra que, depois da morte de seu pai, chegou a se afastar das rotinhas, até que, aos 18 anos, caiu (literalmente) de paraquedas no setor. Foi durante um curso de salto, que realizou com o irmão.

“Quem tem esse vírus, o aerococus, não tem cura”, brincou. Tendo também dois primos na aviação agrícola, ele frisou que, para grande parte dos candidatos, é extremamente difícil fazer todos os cursos (piloto privado, piloto comercial e somar 370 horas de voo para poder fazer o curso de agrícola). “É preciso muita força de vontade, especialmente para quem não é provido financeiramente. Mas é preciso ir atrás do sonho”, completou.   

No caso das carreiras, ele destacou que é preciso investir em formação e estar pronto para quando surgir a oportunidade. “Durante a formação, abuse das perguntas. Nunca tenha vergonha de fazer uma pergunta. Vá conhecer pilotos, empresas, empresários. Vá conhecer o meio e seja lembrado.” Morandini também destacou importância de ouvir os relatos dos mais velhos. O que algumas vezes pode até salvar vidas. “Quando eu pilotava na aviação executiva, sem muita experiência de voo por instrumentos, salvou-me a vida lembrar de uma história de um colega que havia saído da mesma situação crítica.” E concluiu: “sucesso é estar onde você deseja estar”.

EXPERIÊNCIAS: profissionais falaram sobre suas trajetórias e deram dicas para quem quer ingressar nas várias áreas do setor

Outra fala da manhã foi do empresário João Osório Egert Filho, da Destaque Aviação Agrícola. Trabalhando hoje com os dois irmãos na empresa iniciada por seu pai. Egert contou que chegou a se afastar da aviação para cursar engenharia civil, mas também não deu para ficar longe.  Porém, ao contrário dos irmãos, que são pilotos, ele ficou com encarregado do escritório da empresa. “Somos diferentes e acabamos nos completando”, ressaltou. E enfatizou a importância do setor escolhido por ele. “Aí a gente percebe o quanto é importante um escritório forte na empresa, para ela prosperar.”

Assim como nas operações em campo, treinar uma boa equipe de escritório leva tempo. “Acho que até mais tempo do eu treinar um bom piloto (que chega recém-formado) na empresa. O piloto tem sua primeira safra e começa a ficar bom, depois pega a segunda safra e foi aprimorando. Já no escritório leva-se de três a quatro anos para se treinar alguém em todos os processos.”

O bate-papo teve também a participação da encarregada das mídias sociais do Sindag, Gabriella Meireles Andrade Coelho. Com formação em Agronomia e em Ciências Aeronáuticas, a jovem mineira destacou a paixão pela aviação agrícola. Que em 2019 a fez sair sozinha de Belo Horizonte para ir até o Congresso da Aviação Agrícola em Sertãozinho, no interior paulista. Depois, ela aprendeu a trabalhar nas redes sociais e começou a ajudar, de forma voluntária. a Associação das Mulheres Aviadoras (Amab).

Quando ficou sabendo, pela Amab, que o Sindag tinha uma vaga para a coordenação de suas redes, não teve dúvida e inovou: mandou o currículo em vídeo. Ou seja, ela tinha se mantido próximo do setor, ao alcance de uma oportunidade. “É importante ir atrás do que se gosta, mas procurando estar desde cedo nesse meio, conhecê-lo de perto, conhecer as pessoas e ser visto”, destacou. Enquanto isso, ela vai se preparando para um dia atuar na linha de frente nas lavouras.    

O sucesso do virtual e o futuro do presencial

As palestras que ocorreram durante todo o dia, em diversos ambientes virtuais, abordaram ainda manutenção, gestão, tecnologias e ações de boas práticas, além de rodadas de negócios. Após sua participação na rodada de sobre carreiras, o empresário João Osório Egert Filho comentou que o formato do Congresso AvAg, em plataforma virtual, deu uma nova dimensão ao evento. Segundo, principalmente pela praticidade e otimização de tempo e recursos.

“As plataformas para videoconferências e ensino à distância vieram para ficar”, comenta, apostando na mescla entre o virtual e o presencial na edição do ano que vem, programada para a cidade paulista de Sertãozinho/SP. “A gente consegue democratizar mais a informação. Imagine (para o congresso presencial), a empresa que tem 40 funcionários: se depender de deslocamento, alimentação e hotel, poucos participam.” O que ele ilustra ainda com o exemplo do MBA Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola, que ocorre totalmente online: “Eu nem saio do escritório e temos três participantes (dentro da empresa, em São Pedro do Sul/RS). Imagina se tivéssemos e nos deslocar para Porto Alegre”, completa, referindo-se aos 330 quilômetros no caminho para a aula.

Entre os que comemoraram o sucesso do Congresso via web e apostam acreditam no modelo misto para 2022 está também o empresário Eugênio Schröder, da SC Agro. A empresa de consultoria teve mais de 300 pessoas em seu estande virtual, informando-se sobre seus serviços e participando das seis palestras realizadas no evento (diariamente uma pela manhã e outra à tarde). Apresentações que contaram com 10 palestrantes parceiros.

MULHERES: Schröder destacou em seu balanço a repercussão do Painel Feminino realizado pela SC Agro durante o evento

“Além disso, vistamos outros estandes virtuais e conversamos com amigos. Claro que faltaram os abraços e sentar lado a lado. Mas o evento virtual fez toda a diferença. Foi muito positivo e a equipe do Sindag está de parabéns.” Sobre a possibilidade de um evento misto no ano que vem, Schroder também aposta em multiplicação da audiência. “Para que participem mais mecânicos, executores e outros profissionais que eventualmente não possam estar presencialmente, mas possam participar de palestras e discussões importantes.”

Como exemplo, ele cita as apresentações sobre segurança ou manutenção. Onde empresas podem, por exemplo do hangar. “Podendo esclarecer dúvidas em tempo real”. Outro exemplo: “a SC Agro realizou aqui no Congresso o Painel Feminino, com uma piloto agrícola (Joelize Friedrichs), uma piloto de drone (Lillian Espíndola Müller, que também é agrônoma), além da Viviane (Burkert, sócia da empresa e agrônoma). No Congresso presencial, imagine o quando mais abrangente poderia ser esse painel mesclando-se o virtual”.

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