O elo entre rendimento e qualidade

O elo entre rendimento e qualidade

Nos meses de Maio e Junho deste ocupado ano de 2018 tive a oportunidade de realizar a Clínica de Aeronaves nos Estados do Mato Grosso e Bahia. Foram avaliados um AirTractor 502A e um Trush 510G. E uma coisa em comum constatei, há uma grande insegurança dos pilotos com relação a faixa de aplicação adequada e sobre a distribuição da calda dentro da faixa pré-estabelecida. E já antecipando, em ambos os casos foi possível melhorar a qualidade da aplicação ainda aumentando o rendimento.

Em linhas gerais, no Brasil as faixas de aplicação aérea têm sido estabelecidas com base em recomendações de terceiros, quase sempre, sem nenhum método de avaliação para definir tal faixa de aplicação. Já a distribuição da calda não é avaliada. E por fim, mas não menos importante, a faixa de segurança ou o potencial da deriva não é avaliada ou documentado. Portanto, tudo tem sido estabelecido com base em suposições e “achismos”.

De acordo com os pilotos que conversei, o único método de avalição é feito com uso de papeis hidrossensíveis. Do ponto de vista de verificação do espectro de gotas é uma ferramenta espetacular. Com os papeis hidrossensíveis é possível ter uma noção do potencial de deriva da aplicação, uma vez que o fator mais importante para se mitigar a deriva é conhecer o DMV ou Diâmetro Mediano Volumétrico. No entanto, é um método subjetivo para avalição da faixa de aplicação, da distribuição da calda e da faixa de segurança de uma aplicação aérea.

No estado do Mato Grosso verificamos que a faixa de aplicação adotada por um AirTractor 502 A configurado com bicos CP estava com coeficiente de variação acima do recomendado pela literatura. Esta verificação foi obtida com a tecnologia DoPro (Figura 1). Com base nos resultados, que são sigilosos devido a nossa política de privacidade, alteramos de posição os bicos e foi possível melhorar a distribuição da calda devido a redução do coeficiente de variação (C.V.) para menos de 20% e ainda foi possível aumentar a faixa de aplicação de 20 para 25 metros. Com este ajuste foi possível aumentar 100 hectares a mais por hora.

Ainda no Mato Grosso, o Air Tractor 502A também possuía bicos Micronair. Estes estavam estabelecidos para fazer 25 metros de faixa. A uniformidade da aplicação estava com C.V. menor que 20%, o que já é ótimo. Porém, com alterações no posicionamento dos bicos e o auxílio da tecnologia DoPro foi possível aumentar a faixa de aplicação de 25 para 30 metros sem comprometer a uniformidade da distribuição da calda, ou seja, 20% de aumento no rendimento com a segurança de que a qualidade da aplicação continuaria a mesma.

Na Bahia os ganhos não foram diferentes, o Trush 510G adotava a faixa de aplicação de 25 metros com bicos Micronair, no entanto, o C.V. era superior a 20%. Colocamos a mão na massa ou melhor na barra de pulverização e alteramos a posição dos bicos, visando abaixar o C.V. para garantir uma aplicação com mais uniformidade. Conseguimos. Feito isso, o próximo passo foi verificar a possibilidade de aumentar a faixa de aplicação. E deu certo. Aumentamos de 25 para 28 metros a faixa de aplicação, que permitiram aumentar 66 hectares a mais por hora. Foi um avanço significativo para uma fazenda que aplica mais de 10 mil hectares.

Para concluir, quero deixar uma mensagem importante. Não é fácil e nem rápido. No caso do AirTractor 502A foram 3 dias trabalhando das 6h às 18h. Talvez por querer atingir o “estado da arte” ou simplesmente por gostar de estar lá fazendo a Clínica. Mas no final o sentimento de gratidão misturado com dever cumprido nos da forca para começar tudo de novo. E de novo.