8 de setembro de 2021

Piloto agrícola protege família contra incêndio no Pantanal

Fato ocorreu dentro da Operação Hefesto, que já dura mais de 60 dias e onde quatro aviões agrícolas participam de missões contra as chamas no MS, apoiando bombeiros e brigadistas

Na última semana, já na aproximação final do lançamento para combater um foco de incêndio no Pantanal sul-mato-grossense, o piloto agrícola Renato Oliveira Coelho, 57 anos, avistou, no último instante, uma casa em outro ponto do cenário, onde uma “cabeça de fogo” estava prestes a atingir a moradia. “Eu pensei ‘vai queimar a casa’. Deu tempo de abortar o lançamento e dar a volta ainda com dificuldade por causa da fumaça”, recorda, sobre a manobra de última hora. Com 30 anos de experiência como piloto agrícola, nove deles também combatendo incêndios florestais (e mais 1 mil horas de voo nesse tipo de operação) o comandante Oliveira entrou novamente na fumaça, dessa vez para um lançamento quase às cegas sobre o novo alvo. O Air Tractor AT 502-B despejou quase 2 mil litros de água exatamente em cima do fogo. “A gente reza para acertar e deu certo. Já baixou a chama e o pessoal da casinha conseguiu chegar perto para apagar o resto do fogo”, recorda.

O fato ocorreu a cerca de 40 quilômetros a leste de Corumbá, em uma área ainda dentro do setor da área de treinamento do Rabicho da Marinha, no Rio Paraguai. O avião pilotado por Oliveira é um dos quatro aparelhos que a empresa Serrana Aviação Agrícola mantém em operação a serviço do Instituto do Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul). Atualmente, eles operam dentro da Operação Hefesto, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado (o nome é uma alusão ao deus grego do fogo). Conforme o comandante da operação, tenente-coronel Leandro Borges Bertholdo, já são mais de 60 dias de missões contra focos de incêndio, com em média 40 bombeiros militares baseados em Corumbá, seis viaturas e uma aeronave Cessna (utilizada para reconhecimento), além dos Air Tractors da Serrana.

Na imagem feita no dia seguinte ao incêndio, a linha vermelha indica o ponto onde estavam as chamas atingidas pelo lançamento de água feito pelo comandante Oliveira

Dona Marilda foi com o filho pequeno na base dos bombeiros agradecer o envio do “avião amarelinho” para salvar sua casa

O oficial lembra que naquele dia, os bombeiros combatiam os focos de incêndio na região, mas o fogo se espalhava muito rápido. “As chamas começaram a ameaçar a chácara e a moradora entrou em contato com nossa base por telefone. Ela foi orientada a passar as coordenadas”, relata o comandante. Os bombeiros então chegaram a contatar a aeronave para o lançamento, mas o piloto já havia resolvido a questão. “Estava na hora certa no lugar certo”, comenta Oliveira. Depois disso, a proprietária da Fazenda Barro dos Peixes, Marilda Aparecida Alves dos Santos, fez questão de ir com o filho pequeno à base dos bombeiros agradecer a ajuda do “avião amarelinho” – referindo-se à cor característica do modelo Air Tractor. Bertholdo, por sua vez, contou ao piloto. “Foi emocionante”, recorda Oliveira.

Clique abaixo para conferir o relato do piloto Renato Oliveira Coelho:

 

Oliveira: 57 anos de idade, 30 anos de aviação agrícola e mais de 1 mil horas de combate a incêndios, egresso da última turma do Cavag da Fazenda Ipanema

ALVOS DE OPORTUNIDADE

Apesar de normalmente os aviões operarem em apoio ao pessoal em terra, quando estava próximo à fazenda da família de Marilda, o piloto agrícola buscava alvos de oportunidade. “Eram focos de incêndio fora do alcance dos bombeiros naquele momento. Quando isso acontece, o comandante da aeronave é que decide onde lançar. Escolhendo normalmente pontos onde as chamas podem causar maior dano”. No entanto, ele faz questão de destacar o protagonismo dos profissionais em solo. “É esse pessoal que mais tem que se esforçar nas operações, tanto os bombeiros quanto os brigadistas.” Nesse caso, o papel dos pilotos é diminuir as chamas para que as equipes a pé possam chegar até elas. “Em alguns casos, os brigadistas se agrupam e pedem o lançamento sobre eles, para que possamos refrescá-los no meio daquele inferno.”

Natural de Pelotas, no Rio Grande do Sul e há 26 anos no Mato Grosso do Sul, Oliveira se formou na 44ª turma do Curso de Piloto Agrícola (Cavag) da antiga Fazenda Ipanema, em Sorocaba (hoje município de Iperó), no interior paulista. “Foi a última turma formada no local”, recorda, referindo-se ao centro de formação mantido desde 1967 pelo Ministério da Agricultura e fechado em 1991. Na parte de combate a incêndios, além do Pantanal, ele tem no currículo operações nas serras da Canastra, do Cipó e do Papagaio, em Minas Gerais; na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e na Chapada Diamantina, na Bahia.

Atualmente, a aviação agrícola brasileira participa de operações contra incêndios em reservas naturais também no Nordeste e Sudeste, além de fazendas em São Paulo e em Goiás. O combate às chamas em áreas de vegetação é uma das prerrogativas do setor desde 1969 e desde os anos 1990 aviões agrícolas apoiam brigadistas em reservas federais e estaduais. Só no ano passado, pilotos agrícolas despejaram quase 11 milhões de litros de água em incêndios em todo o País. Porém, a utilização dessa ferramenta na escala necessária para fazer frente à crescente demanda na temporada de incêndios no País (que vai de principalmente de julho a setembro) depende da aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que inclui a aviação agrícola nas estratégias de governo para enfrentar o problema.

Confira algumas imagens das operações da Serrana Aviação Agrícola contra incêndios no MS:

 

Dois aviões agrícolas operam na base em Corumbá e outros dois na Fazenda BrPec, no município de Miranda

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