Desinformação e contaminação político-ideológica do debate sobre tecnologia de aplicação aérea

As discussões sobre o possível emprego de aviões no combate a mosquitos transmissores de doenças, como o Aedes aegypti, trouxeram à luz argumentações contrárias, nada técnicas e que levam a opinião pública a formar uma imagem distorcida desta importante e indispensável tecnologia. A resistência à aviação agrícola, por parte  do Ministério da Saúde, de instituições a ele vinculadas, de  entidades não governamentais (e “para-governamentais”), têm como fundamento, na verdade, a objeção,  “dogmática”, aos agrotóxicos e, por consequência ao uso de aviões, até mesmo e principalmente  no combate ao mosquito Aedes aegypti. Ainda que, para tal finalidade, a rigor, não sejam usados “agrotóxicos”, mas sim inseticidas específicos para uso em áreas urbanas, analisados e aprovados para tal finalidade por aquele mesmo Ministério.. Tais rejeições têm um nítido viés político e ideológico eis que, para as citadas organizações,  tudo que se refere a “agrotóxicos”, “defensivos”, etc, soa  como “politicamente incorreto” e desagrada os setores ambientalistas, principalmente os mais radicais, como  a “Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela  Vida”. Esta  Campanha é uma Ong, organizada, que tem como membros várias instituições, algumas  impensáveis. A lista dos  integrantes pode ser conferida no site da Campanha ( http://www.contraosagrotoxicos.org/).

Da relação  não surpreende a participação, em grande número, de “ONGs” – que têm ampla e legítima  liberdade de assim se manifestarem, ainda que equivocadamente –  e dos chamados Movimentos Sociais. O que surpreende, entre outras, é a participação explícita de ÓRGÃOS PÚBLICOS como Secretaria de Agricultura (!!!) e, pior, órgãos públicos de Pesquisa, como por exemplo a Fundação Osvaldo Cruz. Como pode ? Agrotóxicos e Aviação Agrícola são produtos e  atividade lícitos, regulamentados e, portanto, não caberia a  um órgão público ser “contra” (ainda que esta venha a ser a posição pessoal, de seus dirigentes).

Também desperta perplexidade e preocupação a inclusão, na lista de integrantes,  de Conselhos de Classe, como o CREA – Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia (de que Região? Ou seria o  CONFEA?), bem como de Escolas de Agronomia que deveriam, antes,  atuar, construtivamente, para que os  profissionais por estas formados e por aquele fiscalizados viessem a contribuir para a aplicação correta daqueles produtos.  .Essa é uma obrigação, inclusive curricular, das Escolas de Agronomia. De novo a pergunta: como pode?

Temos assistido contundentes manifestações  do Ministério da Saúde  e de entidades a ele vinculadas, contrárias ao projeto apresentado pelo Sindag- Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola –  para aplicação  aérea de inseticídas específicos para o controle do Aedes aegypti. Como se o método de aplicação tivesse o condão de causar problemas, ao  aplicar – melhor – os mesmos produtos que hoje são aplicados via terrestre (os “fumacês”). E, ainda, frise-se que a proposta daquela entidade por enquanto é tão somente  realizar uma avaliação científica do processo, o que, no mínimo, mereceria um tratamento também científico da proposta, por parte dos órgãos e entidades que, sustentadas por recursos publicos, têm a obrigação de realizar Pesquisas isentas e impessoais.

Talvez os integrantes da “Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela  Vida” e seus simpatizantes estejam  se posicionando  sistematicamente  contra a aviação agrícola em função de dois motivos : 1- o avião é um veículo – eficiente – para aplicação de agrotóxicos e 2 – o avião é visto, por algumas das entidades citadas, como um integrante daquilo que chamam de “modelo equivocado da agricultura brasileira” (que, na visão delas deveria estar baseado na pequena propriedade familiar e orgânica e, não no que denominam agricultura “empresarial, latifundiária”). É, portanto, um posicionamento político / ideológico, preconceituoso e, não, técnico. E, muito menos, científico.

Por serem contra os agrotóxicos e a “agricultura empresarial” , se declaram, sempre, contra tudo que pode a eles estar relacionado.

Por “dogma”, o Ministério da Saúde e  entidades  a ele vinculadas têm se negado a avaliar o uso de aviões agrícolas na aplicação de inseticidas saneantes para o controle do Aedes aegypti. Condenam o método sem ao menos testá-lo. posicionamento  inconcebível em se tratando de instituições científicas.

Condenam também  a aplicação aérea, mesmo na agricultura, ainda  que, por exemplo, estudo realizado pela Anvisa em seu programa de detecção de resíduos de agrotóxicos nos alimentos (o “PARA”), tenha revelado que os alimentos mais problemáticas no que se refere a resíduos de agrotóxicos (consequência do mau uso e, não, de características inevitáveis dos produtos) não são aqueles oriundos das grandes culturas  empresariais, principais usuários da aplicação aérea. O estudo mostra que os produtos agrícolas mais críticos  quanto a resíduos de agrotóxicos são os hortifrutigrangeiros como o morango, pepino, abacaxi, cenoura e outras, culturas estas que não são objeto de tratamento via aérea.

Tudo isso evidencia que a  “problemática” dos agrotóxicos ou de seus semelhantes, os inseticidas saneantes, não guarda portanto relação com a aplicação aérea, nem com aspectos fundiários. Passa, isso sim, pela necessidade de  educação e treinamento para uso adequado  daqueles produtos, independentemente das dimensões das propriedades e dos métodos de aplicação. O que, aliás, a Aviação Agrícola tem condições de fazer, e vem fazendo, com toda competência, principalmente em função de seu nível tecnológico e emprego de pessoal altamente especializado.

Urge serenar os ânimos e recolocar o tema em discussão séria, despida de dogmas, preconceitos e posições ideológicas, para o bem do progresso científico e proteção à saúde dos brasileiros.