31 de agosto de 2023
BRASÍLIA: Audiência na Câmara reforça importância da aviação agrícola
Pesquisadores e representantes de entidades e da indústria comprovaram, na Câmara dos Deputados a segurança e os avanços técnicos das ferramentas aéreas e o quanto elas são fundamentais à segurança alimentar, desde lavouras essenciais à economia até para pequenos produtores
A presidente do Sindag, Hoana Almeida Santos, abriu nesta quarta-feira (30) a rodada de apresentações das autoridades e pesquisadores convidados da audiência pública Desafios e oportunidades da aviação agrícola no País, da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento rural (CAPDR) da Câmara dos Deputados, em Brasília. O encontro foi solicitado pelo presidente da Comissão, deputado federal Tião Medeiros (PP/PR), e pela deputada Marussa Boldrin (MDB/GO). E serviu para mostrar não só a segurança e profissionalismo da aviação agrícola brasileira, mas sua importância para desde grandes lavouras de soja, milho e algodão das principais regiões produtoras do País, além de essencial para o arroz produzido no Rio Grande do Sul e Tocantins (que abastece praticamente todo o País) e até a sobrevivência de pequenos produtores de cana-de-açúcar de Pernambuco.
Hoana estava acompanhada de uma comitiva de empresários aeroagrícolas e outros representantes do Sindag e do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag). No centro do debate, um cenário onde a aviação (leia-se aviões, helicópteros e drones) sofre com mitos criados no rastro da falta de conhecimento da sociedade sobre sua tecnologia e legislação. Ao mesmo tempo que, na verdade, é única ferramenta para o trato de lavouras com regulamentação própria no País. Além de ser a de maior transparência em suas operações, com maior exigência de formação técnica de seu pessoal e de contar com tecnologia reconhecida internacionalmente.
Aspectos amplamente pontuados em mais de duas horas de sessão, com as falas também do consultor técnico e ex-professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla, em Minas Gerais), Wellington Pereira Alencar de Carvalho; dos pesquisadores da Embrapa Sorgo e Milho, Décio Karam, e da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Guilherme Rolim; do coordenador de Negócios Internacionais da empresa Zanoni Equipamentos, Lucas Zanoni; do diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) , Fabrício Morais Rosa, e do diretor administrativo da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), Guilherme Lui de Paula Bueno.
“A nossa discussão não encerra hoje aqui. Hoje foi uma primeira etapa, uma primeira discussão. Vamos tentar conduzir isso com ainda mais amplitude. Levar isso com a abordagem técnica que o assunto merece”, destacou Medeiros. “O debate exige que as pessoas tenham conhecimento de que a agricultura evoluiu muito. Principalmente as pessoas das grandes cidades, que estão distantes da agricultura, (…) que hoje é imensa, eficiente e competitiva mundo afora”, completou o parlamentar.
A sustentabilidade tem que caminhar junto com o desenvolvimento. E essa é uma pauta muito importante para nós também”, destacou Hoana. “Nós sabemos que o desenvolvimento do País não se resolve com leis de proibições, mas com apoio a pesquisas e novas tecnologias”, completou a dirigente aeroagrícola. Hoana também entregou Tião Medeiros uma placa do Sindag em reconhecimento pelo esforço do parlamentar em dar critérios técnicos ao debate.
Confira os principais falas da audiência:
HOANA SANTOS – presidente do Sindag
A presidente do Sindag falou sobre o trabalho da entidade aeroagrícola na defesa e melhoria contínua do setor – junto com o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag). Ela destacou a frota de mais de 2,5 mil aeronaves (segundo a Anac) que é a segunda maior do mundo. As mais de 200 empresas de aviação agrícola associadas à entidade (cerca de 90% do mercado) e os cerca de 700 operadores privados (que são produtores rurais e cooperativas que têm seus próprios aviões ou helicópteros). Sem falar de cerca de 30 empresas de drones associadas. Hoana ainda destacou a atuação do setor em adubação e semeadura, além da aplicação de defensivos químicos e biológicos, bem como nas operações de combate a incêndios florestais. Atuando em 24 Estados e somado cerca de 100 milhões de hectares em aplicações anualmente.
Quanto aos desafios do setor, a dirigente enfatizou que sem dúvida o principal problema atualmente são os mitos em torno da atividade. Que embasam não só projetos de proibição contra a atividade, como foram parar também a na ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalidade da proibição da atividade no Ceará (que teve votação em favor da legalidade pelos ministros da casa, mas ainda está na chamada fase de embargos declaratórios). Situação que motivou o início de uma campanha de esclarecimento sobre fatos e mitos em torno da atividade. Por último, a dirigente pontuou ações como o programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA Brasil), participação do Sindag no Pacto Global da ONU.
Confira o vídeo da audiência no momento da apresentação de Hoana Santos:
WELLINGTON CARVALHO – consultor técnico e um dos coordenadores do CAS
Já o professor Wellington Carvalho, ex-professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla, onde se aposentou recentemente), destacou a formação especial exigida de pilotos, agrônomos e técnicos agrícola que trabalham no setor. “A aviação agrícola é uma atividade alicerçada em conhecimentos técnicos, a segurança operacional, à produção, meio ambiente e as pessoas envolvidas nesse processo. Então, quando nós pensamos em tecnologias, cada vez mais a sociedade tem exigido que a produção agrícola esteja atenta à preservação e os cuidados ambientais”, salientou.
Além disso, segundo ele, as universidades têm contribuído para aplicações seguras, “com um volume bastante grande (e com qualidade) de informações em dissertações de mestrado, teses de doutorado, cursos de pós-doutorado”. Trabalhos que atestam a eficiência das ferramentas aéreas. Sem falar de iniciativas como o programa Certificação Aeroagrícola Sustentável (CAS), que é o primeiro selo de qualidade ambiental da aviação agrícola – abrangendo aeronaves tripuladas e drones. O pesquisador também destacou a legislação em torno da atividade aeroagrícola, com exigência inclusive de relatórios minuciosos de cada operação em campo.
Confira a apresentação de Wellington Carvalho:
DECIO KARAM – pesquisador da Embrapa e doutor em ciência de plantas daninhas
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, em Minas Gerais, abriu sua apresentação falando sobre a oportunidade que a demanda por produtividade (manter os níveis de produção sem avançar a fronteira agrícola) representa para as ferramentas de alta tecnologia – onde se insere a aviação agrícola. “Essa é a grande necessidade que temos nas áreas de cana, área de soja, área de algodão, milho, sorgo, arroz e arroz irrigado”, exemplificou.
“Lembrando que a toda essa agricultura, ela tem alguns fatores de risco. E dentre os fatores de risco, estão aqueles fatores de redução dos agentes bióticos: os insetos, as doenças, os fitopatógenos, as plantas daninhas e aí que se encaixa toda essa questão do uso de defensivo agrícola.” Karam também citou uma pesquisa da Nova Zelândia, mostrando que os países em desenvolvimento perdem em torno de 95 bilhões de dólares simplesmente pelo não controle de planta daninha, 85 bilhões de dólares em função do não controle de insetos pragas.
Ele também ressaltou que, para se fazer uso na lavoura, os produtos passam pelo crivo do Ministério da Agricultura, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Abordou também os riscos de cada aplicação e a importância dos cuidados – seja ela terrestre, costal, seja ela usando um animal de tração ou na aplicação aérea. Abordando ainda o uso de biológicos e situações em que a aviação se torna mais urgente para o controle de pragas.
Confira a apresentação de Décio Karam:
GUILHERME ROLIM – entomologista, representando a Abrapa
Rolim pontuou sua palestra a partir do bicudo do algodão, um inseto extremamente perigoso para a lavoura algodoeira. E enfatizou o protagonismo do setor na solução do problema: “Sem aviação agrícola, a gente inviabiliza a cultura do algodão, devido a essa praga.” Para sublinhar isso, ele mostrou fotos de um inseto diminuto, que cabe entre os dedos. “Mas se perder a mão dele, acaba-se tendo prejuízo muito grande”, assinalou, ao apresentar fotos de lavouras atacadas pela praga e com perdas de 70% a 80% da cultura devido ao controle inadequado.
“Ele é difícil controlar porque o melhor combate é na fase de ovo, larva e pupa, que ficam dentro da estrutura do algodão. No botão floral e na maçã que vai dar origem à pluma.” Com um problema a mais: antigamente, os insetos abandonavam as lavouras e voltavam na época da floração. Agora, estudos mostram que ele permanece na área (mesmo quando há outra lavoura no local, na entressafra da cultura). E explode no ciclo da safra. E os melhores controles são feitos por aviões e drones.
“São extensões enormes. Precisamos de rapidez, versatilidade e eficiência. No Mato Grosso, plantamos 14,2 milhão de hectares de algodão, o que representa 70 a 76% do algodão plantado no Brasil, que está em crescente expansão devido à tendência do mercado de consumir fibras naturais. Então a aviação agrícola é extremamente importante para a manutenção dessa cultura”, frisou Rolim.
Confira a apresentação de Guilherme Rolim:
FABRÍCIO ROSA – Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil)
O diretor-executivo da Aprosoja Brasil foi enfático ao falar da importância da aviação agrícola para aquela que é a principal cultura da agricultura nacional. E extremamente dependente da ferramenta aérea. “A importância da aviação agrícola está diretamente conectada com a segurança alimentar, já que é uma ferramenta tecnológica imprescindível.”
Mais do que isso, ele lembrou que muita gente não percebe o quanto a soja está presente na vida de todos. “As pessoas às vezes dizem ‘ah, eu não como soja’. Hoje você não come carne, não come leite, nem ovo que não tenha sido produzido com soja e milho. Então, sim, você consome soja.” O farelo da oleaginosa entra na composição de 27% da ração de frangos; 30% na de (galinhas) poedeiras; suínos, 22%, e suplemento de vacas, 22%. Além disso, a oleaginosa está inclusive substituindo o petróleo nas indústrias químicas. “Temos hoje maquiagens de soja, colchões de polímero de soja. Sem falar no biodiesel, cuja maior parte da matéria-prima é produzida de soja. Então vejam que nós estamos falando de uma cultura que, associada ao milho é, sem dúvida nenhuma a mais importante do País”, assinalou Rosa.
“Se eu perdesse esse a possibilidade de utilizar aviação agrícola para o combate de pragas e doenças na soja, nós teríamos aí já, num primeiro momento, um impacto de 30% na área que nós descrevemos como essencial. Isso equivaleria, de cara, a 26 bilhões de reais de impacto para a cultura. Sem contar progressivamente pelo prejuízo de manejo que você tem. Sem dúvida nenhuma, no ano seguinte a praga vai se tornando mais difícil de ser controlada e as estratégias começam a patinar.”
Confira a apresentação de Fabrício da Rosa:
LUCAS ZANONI – coordenador de Negócios Internacionais da Zanoni Equipamentos (fornecedora de tecnologias aeroagrícolas)
“São duas agendas que o Brasil consegue fazer caminhar muito bem juntas: a agricultura e o ambientalismo. E a aviação agrícola é um grande ponto de convergência entre elas, porque é, sem dúvida, o método mais sustentável que a gente tem para fazer o controle de pragas para fazer aplicação de defensivos agrícolas na lavoura”, destacou Zanoni, já na abertura de sua fala na audiência da CAPDR. “Esse nosso entendimento se baseia em 4 pilares. O primeiro deles é a eficiência e produtividade. A gente consegue produzir mais com menos. Temos uma menor pegada de carbono (no campo), com aviação agrícola”, explicou o coordenador.
“Um segundo ponto é o profissionalismo. Os profissionais da aviação agrícola têm formações específicas. E têm dedicação exclusiva ao que estão fazendo, diferente de outros métodos de pulverização, onde normalmente o operador também exerce outras atividades. Um terceiro ponto é regulação e fiscalização. Nós temos regulamentação da Anac e do Ministério da Agricultura. Temos legislação específica e ainda autorregulação – que o Sindag promove com suas ações de boas práticas. E, por fim, a aviação agrícola tem tecnologias voltadas para uma aplicação mais eficiente e mais segura do ponto de vista ambiental.
Zanoni explicou aos presentes (e quem acompanhava remotamente a audiência), que, no caso das tecnologias, o Brasil já se tornou exportador de equipamentos – inclusive para países como Canadá e Estados Unidos (no caso norte-americano, o maior mercado mundial do setor). Sobre os equipamentos que garantem a precisão nas lavouras, ele falou sobre o DGPS – que guia o piloto exatamente em cada faixa na lavoura, com precisão de centímetros, controlando tecnologias embarcadas e ainda registando toda a operação.
Zanoni também explicou a tecnologia dos bicos de pulverização, com características específicas para garantir precisão em cada tipo de missão e até conforme as características das aeronaves. E ainda discorreu sobre novas tecnologias, onde a própria inteligência artificial já está sendo testada nos sistemas embarcados, com foco em ampliar a capacidade de ajustes dos equipamentos durante o voo. A partir, por exemplo, da leitura em tempo real de estações meteorológicas locais.
Confira a apresentação de Lucas Zanoni:
GUILHERME LUI DE PAULA BUENO – diretor administrativo da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana)
O diretor da Feplana mostrou que a aviação agrícola se tornou importante também em um cenário que abrange pequenos produtores de cana. Onde 82% dos filiados dos filiados à entidade (em mais de 30 associações no País) são micros e pequenos fornecedores de cana para a indústria. Na prática, produtores de 1 mil até 6 mil toneladas. A partir de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), Bueno mostrou (por exemplo) que em Pernambuco, os associados têm uma lavoura média de 21 hectares de canavial, enquanto no Paraná a média é de 37 hectares e, na Paraíba, 24 hectares.
“Jogando um Município, nós temos uma colcha de retalhos, o que demonstra o quão difícil é o produtor canavieiro empregar sua cultura por conta do seu tamanho de área. Nessa colcha de retalhos é que a gente vê do drone, principalmente, como uma saída para que consigamos a pulverização aérea e redução de custos”, destacou o dirigente. E para mostrar o quão difícil é utilizar a pulverização tratorizada nas áreas de cana, Bueno apresentou imagens com a cana alta e fechada, destacando inúmeras pragas extremamente destrutivas que atacam justamente nessa fase as lavouras.
“Em suma, uma eventual proibição da pulverização aérea, especialmente no caso dos drones, causaria um prejuízo enorme para os pequenos produtores e fornecedores de cana”, pontuou. “ O que representaria também um grande problema social.”
Confira a apresentação de Guilherme Bueno:
Confira a repercussão da audiência na matéria que foi para os canais Agro+ e Terra Viva, da Band:
… e onde mais repercutiu a audiência:
Tv Câmara:
https://portal.datagro.com/pt/Agroneg%C3%B3cio/12/703704
https://politicaemfocomt.com.br/comissao-de-agricultura-debate-normas-sobre-aviacao-agricola/
https://www.youtube.com/watch?v=Wi3EyMUjWd0&t=10s