21 de setembro de 2022

Estudo avalia desempenho de aviões agrícolas contra incêndios

 

Pesquisa inédita na América Latina foi divulgada nessa terça, a partir de ensaios com aeronaves Air Tractor, Thrush e Ipanema utilizando comportas hidráulicas da Zanoni e deve auxiliar nas estratégicas para esse tipo de operação no País

 

Uma cerimônia simples, mas cheia de significado. Foi assim a divulgação dos resultados de uma pesquisa onde, pela primeira vez na América Latina, avaliou-se a capacidade de atuação contra o fogo de aeronaves agrícolas equipadas com comportas hidráulicas projetadas para esse tipo de operação. A movimentação ocorreu na tarde desta terça-feira (20) na base da empresa Tangará Aeroagrícola, em Orlândia/SP. O evento foi organizado pelo Sindag e pela empresa Zanoni Equipamentos (que coordenou o estudo), ao final da etapa local da Clínica de Aeronaves, promovida pela Sabri – Sabedoria Agrícola. A pesquisa representa o primeiro protocolo brasileiro classificando a aptidão de diferentes aeronaves para operações contra as chamas.

A Sabri foi uma das participantes do estudo, que foi realizado pela Zanoni Equipamentos, em parceria também com a RTC – Gestão de Riscos e Treinamentos. Os testes de campo para a pesquisa ocorreram em maio, na base da Imagem Aviação Agrícola, em São José do Rio Preto – com aviões cedidos pela anfitriã e pelas empresas Pachu Aviação Agrícola (de Olímpia), Produtiva Aeroagrícola (Orlândia) e Vale do Paranapanema Aviação Agrícola (Assis). O trabalho na época mobilizou mais de 50 profissionais e contou com apoio do Sindag e do curso de Agronomia do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp).

 

Clique AQUI para acessar o relatório do estudo

 

MODELOS DE AVIÕES

Os testes avaliaram seis modelos de aeronaves agrícolas utilizados no País, com capacidade para de carga entre 950 e 3,1 mil litros de água. Todos equipados com comportas de incêndios – hidráulicas no caso dos turboélices e mecânica no caso do Ipanema, ideais para esse tipo de operação e que (à exceção do avião Ipanema) permanecem instaladas junto com os equipamentos utilizados no trato de lavouras. O trabalho abrangeu lançamentos de água em uma faixa de terreno com milhares de coletores – para se constatar a quantidade de água (deposição) por metro quadrado e a área de molhamento efetiva nos lançamentos em alturas de combate ao fogo.

Os dados são importantes para se definir a efetividade de diferentes modelos de aeronaves e a melhor estratégia de combate às chamas em cada tipo de incêndio. Neste caso, considerando o Sistema Nacional de Classificação de Perigo de Incêndio (NFDRS) dos Estados Unidos, que é referência mundial para se determinar a quantidade de água necessária para o controle do fogo em áreas de campos, cerrado, vegetação arbustiva de alta densidade, florestas fechadas etc.

Conforme o pesquisador Lucas Zanoni, a intenção tornar mais efetivos os planos de contingências da iniciativa privada e do setor público no Brasil. Ele lembra, aliás, que o modelo de operação em nosso País – com aviões de empresas aeroagrícolas e de produtores rurais atuando em incêndios é utilizado também em toda a América Latina e na África. “Diferente, por exemplo, do que ocorre nos Estados unidos, onde há empresas com aeronaves só para o combate a incêndios”, completa.

Aliás, o estudo para um protocolo brasileiro de combate a incêndios foi realizado com comportas fabricadas pela Zanoni, que também já equipam aeronaves em diversos países nas duas regiões. O pesquisador cita ainda outra característica importante dos incêndios florestais no Brasil: o emprego de aviação agrícola no combate às chamas ocorre muito mais pela iniciativa privada do que pelos órgãos públicos. “Mais fazendeiros usam aviões próprios ou contratam empresas de aviação, por exemplo, no regime de brigadas aéreas. Neste caso para proteção tanto das lavouras quanto das reservas naturais em suas propriedades. Já no setor público (órgãos federais e dos Estados) a busca da ferramenta aérea para a proteção de reservas ainda é relativamente pequena”.

AERONAVES MENORES

A pesquisa também eliminou o mito de que aeronaves pequenas não têm capacidade de combate para serem incluídas nas estratégias contra incêndios. “Nós incluímos nos testes o modelo Ipanema, da Embraer – que equipa pouco mais de 55% da frota nacional. Os ensaios, nesse caso, avaliaram lançamentos de água com caixas de alijamento convencionais e comportas para combate a incêndio. “Os resultados apontaram para uma efetividade de lançamento com a comporta específica para incêndio – que permitiu concentrar a água na quantidade efetiva de litros por metro quadrado do sistema de classificação norte-americano.

Aliás, o próximo passo da pesquisa é avaliar a eficiência das estratégias de combate às chamas em cada bioma brasileiro. “Nós temos o parâmetro norte-americano par florestais, por exemplo. Mas que foi elaborado para florestas de lá. Nós ainda precisamos afinar esses dados para as florestas daqui.”

Momento crucial

Segundo o presidente do Sindag, Thiago Magalhães Silva, o estudo chega em um momento crucial para o Brasil. Isso devido à sanção, em julho, da Lei Federal 14.406/2022, que inclui o uso da aviação agrícola nas políticas do governo para o combate a incêndios florestais. “Ao mesmo tempo em que a nova norma dá segurança jurídica para os gestores públicos apostarem na ferramenta aérea, agora se tem uma avaliação a eficiência de diferentes aeronaves para cada situação.”

Ou seja, a iniciativa deve otimizar o planejamento das ações de proteção contra as chamas, tanto de reservas naturais quanto em lavouras. Lembrando que, além de já atuar em contratos para órgãos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e em apoio aos governos de São Paulo, Bahia e Mato Grosso do Sul, cada vez mais a aviação agrícola integra planos de contingência de produtores rurais e usinas sucroenergéticas.  

CAPACIDADE

Atualmente, o Brasil tem a segunda maior frota de aviões agrícolas do País, com cerca de 2,5 mil aeronaves. No ano passado, aviões agrícolas brasileiros lançaram 19,5 milhões de litros de água contra o fogo para proteger biomas e lavouras – especialmente no Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do País. O levantamento do Sindag aponta mais de 4 mil horas voadas e 10,9 mil lançamentos contra as chamas, realizados as por cerca de 30 aeronaves e envolvendo ainda algo em torno de 45 pilotos e 40 profissionais de apoio nas bases.

Conforme os dados do Sindag, o volume de água lançado no ano passado foi 80% superior ao das operações contra chamas de 2020. Em 2022, embora o combate às chamas esteja menos intenso do que em temporadas anteriores, a aposta é que esse estudo, mais a Lei Federal 14.406/2022, ajudem a fortalecer as estratégias contra as chamas em 2023.

O presidente do Sindag lembra que a temporada de incêndios no Brasil normalmente ocorre no período de entressafra em cada região. Justamente quando os aviões agrícolas estão parados. “Ou seja, especialmente para o setor público, é muito mais barato contar com aeronaves e profissionais (pilotos e equipes experientes no apoio em solo para preparar as aeronaves) somente nos períodos críticos do que comprar aeronaves e manter equipamentos, equipes e base o ano todo”, completa Thiago Silva.

Aliás, os próprios produtores rurais cada vez mais chegam à conclusão que é mais seguro contar com o avião agrícola contra os incêndios em lavouras ou reservas dentro de suas propriedades, do que amargar os prejuízos e riscos para as pessoas e instalações nas fazendas. Caso os planos de combate a incêndios elaborados pelas usinas sucroenergéticas de São Paulo e os serviços das brigadas aéreas em Goiás.

 

 

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