Voando baixo e prejudicando a uniformidade de distribuição de calda nas aplicações
Voando baixo e prejudicando a uniformidade de distribuição de calda nas aplicações
Durante as Clinicas de Aeronaves SABRI & DOPRO tem sido observado
que a altura de voo interfere na uniformidade de distribuição de calda ao longo
da faixa de aplicação determinada pelo piloto. No entanto, para toda regra
existem exceções. E o objetivo deste texto não é confrontar ou contestar a
técnica de aplicação de pilotos, empresas ou fazendas. Temos como real
objetivo neste texto compartilhar situações encontradas durante nossos
trabalhos e assim colaborar com você leitor no entendimento deste fator altura
de voo.
Primeiramente é preciso mencionar que nas avaliações do efeito da altura
de voo no padrão de deposição de calda é adotado o vento alinhado ou vento de
proa para as aplicações. Esta é a metodologia adotada nas Clinicas de Aeronaves
aqui no Brasil pela SABRI e também pelas Clínicas de Aeronaves nos Estados
Unidos pela NAAA entre outras. O motivo de ser usado vento alinhado ou de
proa é simples, apenas assim poderíamos verificar irregularidades na
distribuição de calda. Quando há vento lateral ou vento de través as
irregularidades na distribuição da calda são “mascaradas”.
Isto posto, todo cuidado é pouco com relação a mudanças da direção do
vento durante as avaliações. Monitoramos a direção do vento com auxilio de
um anemômetro especial (Fig. 1), que identifica a ocorrência de ventos laterais
ou também chamados de “cross wind”.
Fig. 1 – Anemômetro digital usado para monitoramento a velocidade do vento e ocorrência de ventos
laterais ou “cross wind” durante as Clínicas de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil.
Para demonstrar a você leitor o efeito que a ocorrência de ventos laterais
ou “cross wind” provocam no padrão de deposição de calda nos apresentamos
abaixo os resultados obtidos para uma mesma aeronave. Na Figura 2, tem-se o
gráfico em que houve ocorrência de vento lateral no sentido da asa esquerda
para a direita. Já na Figura 3, tem-se o gráfico em que não houve ocorrência de
ventos laterais ou “cross wind”.
Figuras 2 e 3 – Efeito de ventos laterais no padrão de distribuição de calda. Dados obtidos durante
uma Clinica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil sob condições reais de campo. Por politica de
privacidade não foi divulgado o prefixo da aeronave e o nome do piloto.
Note que, dentro da mesma faixa de aplicação determinada pelo piloto
(faixa central pontilhada) existiam falhas e possíveis subdosagens que não
seriam identificadas com ocorrência de ventos laterais e, consequentemente, se
fossem adotados voos de través durante as avaliações feitas nas Clínicas de
Aeronaves.
Uma vez demonstrada a importância de adotarmos o vento de proa,
voltamos para as avaliações de altura de voo. Nelas usamos uma metodologia parecida com a adotada em topografia. Temos um ponto de referencia que chamo de ponto zero onde há uma bola branca como marco. A partir deste marco são posicionadas três bandeiras de sinalização para que a aeronave faça o voo alinhado e centralizado com estas bandeiras. Paralelo ao ponto zero há
uma luneta com mira a laser e, por fim, entre o ponto zero e a luneta temos uma
régua graduada para a orientação da altura de voo pela equipe em solo (Fig. 4 e
5).
Fig. 4 – Metodologia usada para verificação da altura de voo durante as Clínicas de Aeronaves SABRI
& DOPRO no Brasil.
Fig. 5 – Luneta com mira a laser usada para verificação da altura de voo durante as Clínicas de
Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil.
Esta metodologia simples nos permite avaliar a altura de voo em
aeronaves que não possuem altímetro digital no cockpit. Sendo que, naquelas
aeronaves que cotam com altímetro digital, as alturas obtidas em solo a partir
desta metodologia conferem precisamente com as alturas informadas pelo
piloto a partir do sistema digital dentro do cockpit.
Uma vez compreendia a metodologia que usamos para avaliar a altura de
voo, seguimos para a prática e entra em ação a tecnologia de espectrometria de
fio. Em que usamos um fio ou barbante composto por algodão e poliéster para
capturar a deposição de gotas concentradas com marcador não tóxico a partir da
aplicação aérea. Então este fio especial é levado até o equipamento que faz a
leitura das três ou mais repetições feitas no campo e dai gera um laudo, ou
melhor, um raio x da aplicação feita pela aeronave (Fig. 6).
Fig. 6 – Tecnologia DoPro de espectrometria de fio usada para verificação do padrão de distribuição
de calda durante as Clínicas de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil.
Nas avaliações com vento alinhado ou vento de proa, temos observado
dois tipos de desuniformidade na distribuição de calda quando são adotadas pelo
piloto alturas de voo iguais ou inferiores a 2 metros. Neste primeiro caso
apresentamos os resultados do padrão de distribuição de calda com um Air
Tractor 502 B voando a 1.8 m de altura (Fig. 7) e a mesma aeronave voando a
4.5 m de altura (Fig. 8). Ambos configurados com bicos hidráulicos D6 core 46
perfazendo um volume de calda de 15 litros por hectare.
No primeiro caso, em que houve maior deposição de calda no centro da
faixa de aplicação criando um desenho típico no gráfico em formato de U,
acreditamos na hipótese de efeito do vortex da hélice prejudicando a
distribuição de calda em função da altura de voo de 1.8 m (Fig. 7). Pois
verificamos em altura de voo de 4.5 m que houve maior uniformidade de
distribuição da calda (Fig. 8).
Fig. 7 – Efeito da altura de voo de 1.8 metros no padrão de distribuição de calda. Dados obtidos durante uma Clinica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil sob condições reais de campo. Por politica de privacidade não foi divulgado o prefixo da aeronave e o nome do piloto.
Fig. 8 – Efeito da altura de voo de 4.5 metros no padrão de distribuição de calda. Dados obtidos durante uma Clinica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil sob condições reais de campo. Por politica de privacidade não foi divulgado o prefixo da aeronave e o nome do piloto.
Por outro lado, nas figuras abaixo apresentamos os resultados do padrão
de distribuição de calda com outra aeronave. Agora um THRUSH 510 G voando
a 2 m de altura (Fig. 9) e a mesma aeronave voando a 3.5 m de altura (Fig. 10).
Ambos configurados com bicos hidráulicos TeeJet 4015 perfazendo um volume
de calda de 28 litros por hectare.
Neste segundo caso, em que houve menor deposição de calda nas
extremidades da faixa de aplicação na altura de voo 2 m (Fig. 9), nos também
acreditamos na hipótese que houve efeito negativo da menor altura de voo. Pois,
ao adotar altura de voo de 3.5 m houve maior deposição de calda nos limites da
faixa de aplicação (Fig. 10). Portanto, verificamos ao aumentar a altura de voo
que houve maior abertura de faixa, evitando falhas ou subdosagens nos limites
da faixa de aplicação.
Fig. 9 – Efeito da altura de voo de 2 metros no padrão de distribuição de calda. Dados obtidos durante
uma Clinica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil sob condições reais de campo. Por politica de
privacidade não foi divulgado o prefixo da aeronave e o nome do piloto.
Fig. 10 – Efeito da altura de voo de 3.5 metros no padrão de distribuição de calda. Dados obtidos durante uma Clinica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil sob condições reais de campo. Por politica de privacidade não foi divulgado o prefixo da aeronave e o nome do piloto.
Ainda neste segundo caso, verifica-se que houve maior depósito de calda
no centro da faixa de aplicação também criando no gráfico um deposição em
formato de U. No entanto, neste caso em que é descartada a hipótese de ser
resultado da menor altura de voo, o acúmulo de deposição no centro da faixa de
aplicação pode ser devido a interferência de outros fatores, tais como: i)
posicionamento inadequado dos bicos, ii) interferência das rodas, iii) ausência
de bicos na barriga da aeronave, entre outros que serão abordados nos próximos
textos.
Contudo, é intuitivo concluirmos que a altura de voo interfere na
qualidade das aplicações. Porém, isto vai depender de diferentes fatores como
tipo de aeronave, configuração e posicionamento das pontas na barra de
pulverização, do modo como piloto trabalha, da direção do vento durante as
avaliações, entre outros. Logo, a realização de testes, pesquisas e ações
extensionistas como as Clínicas de Aeronaves SABRI têm papel importante e
fundamental para o desenvolvimento sustentável da aplicação aérea no Brasil.
Se você chegou até o final deste texto, sinceramente, o meu muito
obrigado pela sua atenção. Espero ter acrescentado com informações que façam
a diferença no seu dia a dia. E por favor, não deixe de dar sua opinião sobre este
texto e também compartilhar conosco algum tema que seja do seu interesse para
abordamos nos próximos textos.
Com um abraço Henrique Campos.
“SÓ EXISTE UM CAMINHO HONESTO PARA O TRIUNFO: AJUDAR AS PESSOAS”