Brasil: no olho do furacão

*Gil Reis

Qualquer observador razoavelmente atento à geopolítica já percebeu o processo de enfraquecimento da todo poderosa União Europeia que começou há algum tempo diante do enfrentamento de problemas de divergências internas de todo o gênero, desde ideológicas até políticas.

A UE vem se deparando com problemas sérios para a manutenção da cultura dos países membros em razão da baixa taxa de natalidade. Enfrentam desequilíbrio populacional provocado pelos refugiados das mais diversas culturas que afetam, diretamente, as oportunidades de emprego, refletindo nos orçamentos dos serviços públicos. Tudo potencializado pela crise econômica gerada pela pandemia.

O bloco foi forjado a ferro e fogo para concretizar um projeto de poder do continente europeu em busca de protagonismo no mundo. Precisa, entretanto, readquirir poder real. Congrega países com ressentimentos históricos em razão de guerras internas, crueldade com seus vizinhos. Os países mais fortes do continente, para viabilizar as anexações, sempre tentaram extinguir a cultura e religiões dos conquistados.

A cultura do expansionismo nasceu no velho continente europeu, comandado por países notadamente colonialistas, que devastaram suas florestas originais, exploraram à exaustão seus próprios recursos naturais e partiram para fazer o mesmo nos demais países de outros continentes, destruindo a natureza, pilhando riquezas, escravizando e explorando outros povos.

Seguindo a lógica atual, mudanças climáticas e emissão de gases de efeito estufa, podemos afirmar sem medo de errar que o velho continente há séculos iniciou todo esse processo de agressão ao meio ambiente, em prejuízo de todos, sem o menor pudor. Agora pretendem reescrever a história para esquecermos os seus pecados e crimes do passado. Posam de santos e xerifes do planeta, uma forma insidiosa de domínio através de nova receita de colonialismo – o ideológico.  O mais grave é que tentam creditar a conta, de seus pecados e crimes do passado, ao Brasil.

Alguns países do continente europeu são inegavelmente o berço da escravidão negra, dos preconceitos de todo os gêneros, inclusive, racial, religioso e da apropriação indébita de hábitos, costumes e religiões de outros povos.

O que marcou, realmente, o registro histórico de certos países europeus foi a exploração de nossos recursos naturais e a pilhagem de nossas riquezas. O mais espantoso é que se arvoraram a proprietários do continente americano e assinaram o famigerado “Tratado de Tordesilhas”, para dividir o “butim”.

Voltemos ao presente, a frágil UE está vivendo o drama em função de relevantes problemas de manutenção de sua atual composição, bastante agravados com a recente saída da Inglaterra que, sejamos justos, jamais aderiu de coração a tal união mantendo, entre outras coisas, a sua moeda nacional, se volta para um sonho colonialista do passado de alguns países – a internacionalização da Amazônia e a sua anexação aos seus próprios territórios. Na execução dessa tarefa vale tudo para justificar a ação.

Analisemos o quadro da geopolítica, a UE vem, cada vez mais, perdendo o protagonismo mundial para países continentais como a China, Rússia, EUA e até mesmo para o Brasil. Aí o sonho de internacionalização da Amazônia muda de figura. A posse das riquezas conhecidas da região passa a ser o “fiel da balança geopolítica”.

Sendo a Amazônia o “fiel da balança” da geopolítica é justo dizer que o Brasil está no “olho do furacão”.

Todavia, a estratégia utilizada hoje pelos países com sonhos colonialistas está totalmente errada, o mundo mudou. Os instrumentos utilizados estão errados. Os argumentos difundidos nos ataques ao Brasil e ao Agro com dados distorcidos e manipulados com intenção de caracteriza-los como “desmatadores” e vilões do aquecimento global, tem vida curta. Nada resiste a fatos verdadeiros. Não importa o quanto se tente maquia-los, a história mostra que, por mais que demore, a verdade sempre prevalece. Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.

O colonialismo e expansionismo, que prevaleceram no planeta ao longo dos séculos, morreu. Os países colônias estão buscando a independência, de forma negociada ou através da violência. O mundo mudou e o mundo novo está a um palmo do nariz de todos, somente não o vê quem não quer ver.

A globalização, a internet e as redes sociais estão difundindo a nível planetário os conceitos de democracia, soberania, territorialidade e patriotismo em contraposição ao nacionalismo extremado, que sempre serviu de instrumento de domínio. O mapa mundi, inevitavelmente, será rearrumado.

O colonialismo deixou de ser o instrumento de poder geopolítico. Cada vez mais as alianças se caracterizam como o novo instrumento de consolidação desse poder. Unem países e continentes sem necessidade de subordinações e hierarquia, mantendo as soberanias, preservando os territórios e reforçando o patriotismo de cada povo.

Assim que desapareça a cegueira passageira da União Europeia, os europeus vão perceber que o Brasil está capitaneando e oferecendo o instrumento mais poderoso de alteração da geopolítica que marcará a próxima década deste novo século – o acordo Mercosul/União Europeia.

O acordo, quando aprovado, unirá dois continentes – Europa e América do Sul – consolidando ambos geopoliticamente. Essa aliança é muito mais forte e permanente que qualquer internacionalização ou anexação de alguma região.

As alianças passam a ser o grande instrumento de alterações geopolíticas. Aguardemos que o tempo mostrará a todos essa verdade. Não esqueçam nunca que o tempo é o senhor da razão e o “determinismo histórico”, propalado por Marx, somente ocorre quando se desconhece a história, tal paradigma está sendo rompido definitivamente.

*Consultor em Agronegócio