Combate à poluição por agrotóxicos: uma questão de conscientização dos aplicadores e da sociedade

Por Andréa Brondani da Rocha, engenheira agrônoma, Dra em Fisiologia Vegetal, Especialista em Direito Ambiental Internacional, Conselheira Federal RS, CONFEA. abdarocha@gmail.com; @andrea.brondani.darocha

            A data de 11 de janeiro, dia de combate à poluição por agrotóxicos, foi criada para conscientização da sociedade quanto aos riscos causados pelo uso indiscriminado e desprotegido de agrotóxicos e os problemas causados ao meio ambiente e à saúde humana.

            Os agrotóxicos são substâncias regulamentadas para uso exclusivo na produção agrícola, e requerem prescrição de receituário agronômico por parte de profissionais da Agronomia. Nesta prescrição há a descrição do alvo a ser tratado, a indicação do produto a ser aplicado, a indicação do método de aplicação, a dose a ser utilizada, bem como as medidas de proteção individual (ou coletiva) a ser utilizada. Desta forma, a aplicações dos agrotóxicas resultarão em controle efetivo do alvo e em consonância com as normas de segurança ambiental e de saúde.

            Dentre as formulações disponíveis e os métodos de aplicação, atualmente tem- se destacado o uso de agrotóxicos em formulações líquidas. Em sistemas de pulverizações, os volumes de calda utilizados são divididos em classes: ultra-baixo volume (até 5 L/ha-1), baixo volume (entre 5 e 30 L.ha-1), médio volume (30 a 50 L.ha-1) e alto volume (acima de 50 L/ha). As pulverizações a baixo volume (BV) e ultra-baixo volume (UBV) devem gerar gotas finas para serem eficientes. A principal vantagem dos pulverizadores de baixo volume é o alto rendimento operacional propiciado, devido ao menor volume de água como veículo, o que reduz a necessidade de reabastecimentos. Na pulverização UBV, há a completa eliminação da água como veículo, sendo o produto aplicado na forma concentrada.

            Dentre as formas de aplicação, se via terrestre ou aérea, nota-se que nas  aplicações aéreas consegue-se atingir uma percentagem de cobertura de forma homogênea  em todas as partes das plantas nas lavouras. Nesta modalidade de pulverização, são produzidas maior número de gotas com tamanhos menores que na pulverização terrestre, o que favorece a efetividade da penetração e deposição do produto. Cabe ressaltar que pulverizações a ultra-baixo volume, ou mesmo baixo volume são ineficientes sem o uso de gotas pequenas, exceto no caso de produtos sistêmicos ou com forte ação de vapor. Como exemplo oposto, certos inseticidas,  cuja ação é essencialmente por contato, necessitam de gotas bastante pequenas para serem efetivos.

            Para que seja possível tornar as pulverizações de baixo volume eficientes é essencial utilizar-se equipamento adequado que produza gotas uniformes, obtendo-se então, o benefício de uma cobertura que atinja o alvo. Que tipo de equipamento deve ser usado, então? Aqui a escolha correta dos bicos de pulverização é fundamental. Um bico de pulverização comum produz um amplo espectro de tamanho de gotas, geralmente com gotas maiores despegando-se das folhas diretamente para o solo.

            Com pulverizações de baixo volume podemos conseguir melhor cobertura das plantas com o mínimo de contaminação do solo, uma vez que as plantas estão verticalmente posicionadas. Com gotas grandes não conseguiremos boa cobertura da folhagem do topo das plantas; muito pouca penetração no seu interior e nas faces inferiores das folhas e praticamente, pouquíssima deposição nos pelos e tricomas das plantas, onde somente gotas muito pequenas são fixadas.

            Com o avanço das tecnologias de aplicações com a utilização de  drones, inclusive os pequenos produtores (áreas menores) e os produtores de culturas que requerem uma precisão maior na sua aplicação, poderão fazer uso de pulverizações a baixo volume ou ultra-baixo volume, e assim se beneficiar de um controle fitossanitário efetivo e com menor custo de aplicação, aliado obviamente, a maior segurança ambiental e de saúde nas aplicações.

            Por um lado, a sociedade clama pelo fornecimento de produtos em quantidades que satisfaçam a sua necessidade alimentar, e economicidade. E também demanda o fornecimento de alimentos seguros, inócuos à sua saúde, e portanto livres de resíduos de agrotóxicos. Por outro lado, os agricultores necessitam produzir de modo eficaz e com o custo de produção adequado às necessidades de mercado. O ambiente de produção é desafiador, no sentido de que a presença de pragas e doenças no ambiente de produção agrícola são o cotidiano nos mais diversos sistemas de produção. Certamente técnicas de produção sustentáveis costumam gerar um equilíbrio ecológico que resulta na otimização de recursos, incluindo o uso de agrotóxicos. Os agricultores não utilizam agrotóxicos porque gostam de fazê-lo, mas por necessidade de controle de pragas e doenças. E seu uso consciente e protegido é seguro. Neste sentido, a maior disponibilidade de agrotóxicos formulados através de organismos e seus componentes, os chamados agrotóxicos biológicos, é muito benéfico para compatibilizar os diversos sistemas de produção agrícola. Estes produtos biológicos possuem elevada eficiência e são compatíveis com as formas de aplicação citadas acima.

            Concluindo, o assunto aplicação de agrotóxicos requer assistência técnica de profissional habilitado, que resulte na escolha adequada do produto, forma de aplicação e volume de calda a ser utilizada. A conscientização sobre este tema passa pela sociedade produtora, profissionais envolvidos nos sistemas de produção, e também sociedade consumidora.  As  atuais normas de rastreabilidade de produção vegetal no Brasil poderão ser uma excelente ferramenta de controle do uso de agrotóxicos, onde todos os elos da cadeia produtiva conseguirão serão beneficiados, minimizando com isto os riscos de contaminações dos aplicadores, consumidores, e do meio ambiente.