Estocar é preciso
A estocagem de aeronaves e seus sistemas é um assunto pouco conhecido, porém fundamental na aplicação em aeronaves indisponíveis por um período de até sete dias ou mais. Trata-se de um tema amplo e diversificado que merece estar na pauta de debates, pois sua importância está diretamente ligada diretamente a Prevenção e Segurança de Voo.
O propósito do processo de estocagem é assegurar a preservação das aeronaves inativas (sem voar ou taxiar por sete ou mais dias), visando minimizar a corrosão da estrutura e dos componentes, deterioração de selantes e gaxetas, manter os equipamentos elétrico-eletrônicos em condições de operação.
Para um melhor entendimento do assunto, é necessário definir alguns conceitos básicos, dentre esses o que é aeronave estocada e preservada, sendo assim: Aeronave Estocada: é a aeronave sujeita ao processo de estocagem que se encontra em condições de voo e Aeronave Preservada: é a aeronave sujeita ao processo de estocagem que se encontra sem condições de voo.
Podemos citar ainda os seguintes conceitos: Estocagem em condições de voo: recomendado para manter a aeronave em condições de operação, implica em amarração, instalação de capas protetoras, inspeção a cada sete dias e um giro no motor a cada quatorze dias; Estocagem curta (1 – 45 dias): recomenda-se executar a preservação do sistema de combustível do motor; sistema de óleo e componentes expostos; remoção dos equipamentos de comunicação; bateria, relógio, extintores e kit de primeiros socorros e amarração, capas protetoras e inspeção a cada sete dias; Estocagem intermediária (46 – 180 dias): este tipo de estocagem inclui todos os procedimentos da estocagem curta com a preservação do sistema de combustível e deve ser estabelecido um programa de controle de corrosão. Estocagem de longa duração (acima de 180 dias): esta categoria de manutenção incluirá todos os requisitos gerais de estocagem de aeronave, que sofrendo qualquer tipo de manutenção programada ou não, ficará inativa por mais de seis meses.
Evidentemente que se deve associar aos procedimentos citados acima, a legislação de manutenção e operação da Agência Nacional de Aviação Civil, além das particularidades de cada aeronave listadas em seus respectivos manuais, com especial atenção ao grupo moto propulsor (motores) que possuem requisitos próprios de estocagem.
Para ilustrar o exposto acima apresento uma ocorrência aeronáutica descrita em forma de Divulgação Operacional (DIVOP), no intuito de enfatizar a importância da estocagem de aeronaves, que foi fator contribuinte do acidente:
DIVULGAÇÃO OPERACIONAL
Nº 05/DIPAA/010305
FALHA DE MOTOR EM VOO (AB 115)
Histórico
Em 29 de março de 2004, uma aeronave AB-115 foi escalada para um voo de instrução no aeródromo de XXXX-YY. Após alguns segundos de voo, o instrutor percebeu a perda de potência do motor e imediatamente efetuou um pouso forçado, em terreno não adequado cerca de 1,5 km da cabeceira da pista 14 do aeródromo de XXXX (SBYY).
O aluno sofreu ferimentos leves e a aeronave foi avariada no trem de pouso e na hélice.
Análise
Ao verificar os danos na aeronave, constatou-se que a principal causa do acidente foi a deficiente manutenção, devido a ocorrência de depósito de barro, a presença de insetos (marimbondos, abelhas, etc…) e outros. O fato ocorreu quando a aeronave estava indisponível para o voo, não tendo sido vedada por bloqueios ou outros meios que preservassem seus pontos sensíveis.
Conclusão
Fatores Contribuintes: Pessoal de Apoio
Durante a hangaragem da aeronave não foram tomados os devidos cuidados para vedar e bloquear as entradas de ar e orifícios sensíveis da aeronave, o que teria evitado obstruções e entupimentos.
Foto da aeronave no local da ocorrência
Casualmente a exemplificação deste caso é com o Aero Boero, porém poderia ocorrer com qualquer outro tipo de aeronave operada no Brasil. Sendo assim, os responsáveis pela manutenção devem buscar informações sobre a aplicação e controle desse procedimento objetivando qualificar e aprimorar sua função e os cuidados com a aeronave.
Então neste breve artigo, fica o ensinamento de Prevenção que uma aeronave sem a estocagem e preservação adequada, está sujeita a intempéries e condições de sujidade, que certamente provocarão no mínimo uma ocorrência anormal, na melhor das hipóteses, portanto atitudes simples, podem contribuir sobremaneira para fazer valer o primeiro mandamento da filosofia SIPAER, que todo acidente pode ser evitado.