POR QUE AS 4 X 4 SEGUEM RODANDO COM A INVIABILIDADE DO SETOR?

A pergunta recorrente ao produtor rural e, em especial ao arrozeiro, é por que ele continua na atividade sem rentabilidade?

Não vou falar de paixões, amor ao campo e à lavoura porque isso não paga as contas pessoais e nem as do negócio.

De forma objetiva, mais de 50% dos produtores de arroz plantam em terras arrendadas e possuem contratos de arrendamento que giram em torno de 10 anos. Romper esse contrato implica em multas pesadas muitas vezes.

Para aqueles produtores que ainda estão com o crédito oficial dos bancos, tirar um empréstimo para a financiar a lavoura significa que os juros oficiais de 8,5% podem chegar a 20% ou mais dependendo dos “penduricalhos” empurrados compulsoriamente pelo banco, tais como seguro de vida, aplicações e claro, um consórcio de carro. Sendo o produtor um inevitável transportador de pneus de trator, bombas, fardos de insumos e ração e outras peças de tamanho avantajado, não seria possível esse tipo de transporte em um carro popular. Ele opta então, pelo utilitário 4 x 4, as chamadas camionetes, muitas vezes usadas até para puxar e desatolar máquinas no campo.

Não bastasse essa sangria, como esse empréstimo requer seguro, fica uma parte dele no banco e falta para o produtor uma certa quantia que ele pode pegar na indústria. Aí inicia um ciclo vicioso e outra sangria de pagar empréstimo com juros acima do mercado e entregar seu produto logo após a colheita com os menores preços e com descontos que não seguem a Instrução Normativa 06 do MAPA.

Ficamos impossibilitado de pagar em anos de adversidade climática e preços aviltados como nesse ano em que estamos pagando para que o governo tenha o nosso produto barato na cesta básica. Pagando sim! Pois em média estamos no prejuízo de dez reais para produzir um saco de 50kg de arroz.

As dívidas são, então, renegociadas e o produtor precisa continuar no negócio na tentativa de conseguir honrar seus compromissos. Existem parcelas de máquinas e implementos a pagar, afinal ele foi estimulado pelos governos a ser produtivo e eficiente para a alimentar a população. Existe um grande capital imobilizado em canais, regadeiras, barragens, bombas, parte elétrica, silos… Existem funcionários e suas famílias que dependem dos empregos. Sair da lavoura de arroz não é tão fácil como para outros empresários.

Todos ganham dinheiro na cadeia do arroz, menos o produtor. Os bancos comemoram saldo positivo, o governo comemora superávit na balança comercial com os produtos do Agro, as indústrias cada vez mais ricas, as multinacionais dos insumos vão muito bem, as fábricas de máquinas e seus bancos também… Quem sangra e banca tudo isso é o produtor!! Os políticos e governantes fazem vista grossa para uma grave crise do setor aumentando como bola de neve já há alguns mandatos. Afinal, quem lhes bancavam as campanhas?

Att

Maria de Fátima Marchezan Menezes da Silva, Dra.

55 9 96945793 / 55 34214303

Presidente da Associação dos Arrozeiros de Alegrete