Síndrome pós COVID-19 e segurança na aviação

Desde os primeiros relatos de casos na China em dezembro de 2019, o novo coronavírus (SARS-CoV2/COVID-19) tem causado uma quantidade enorme de mortes em todo o mundo. Diante de milhares de casos de infecção, reinfecção, sintomas e sequelas, a ciência enfrenta dia a dia o desafio de
compreender totalmente o funcionamento deste vírus. Embora os problemas respiratórios sejam os sintomas mais divulgados como ameaçadores em casos de COVID-19, outras complicações importantes são identificadas nos pacientes após o período de contaminação e tratamento.

Esses sintomas têm sido denominados de síndrome pós COVID-19 e tem se apresentado em uma enorme quantidade de pessoas. Evidencias sugerem que no período após a pessoa ter sido considerada curada, podem estar presentes sintomas prolongados tais como cefaléia, perda do paladar, perda do olfato, fadiga intensa, fraqueza muscular, desorientação e confusão mental, perda de equilíbrio e déficits cognitivos importantes como falha de raciocínio, dificuldades na resolução de problemas, planejamento e execução, além de alterações na memória, fadiga mental, depressão, ansiedade, stress pós-traumático, entre outros. Esses sintomas podem acontecer tanto em pessoas que tiveram formas graves da doença quanto naquelas que apresentaram quadros leves.

A preocupação em relação à execução de tarefas no âmbito da aviação é uma realidade constante e que precisa ainda mais de atenção neste momento de pandemia. Os sintomas de pós COVID-19 em indivíduos que atuam em operações aeronáuticas podem ter conseqüências graves, comprometendo a execução das tarefas, a eficiência física e psicológica, como também a diminuição do desempenho e da segurança das operações. Esses sintomas, se não identificados e relatados, podem se tornar fatores contribuintes para a ocorrência de acidentes e incidentes aeronáuticos.

Neste cenário, é de extrema importância a notificação de casos de síndrome de pós COVID-19 em profissionais envolvidos em operações de voo, para que seja possível a avaliação e monitoramento de forma adequada, sendo fundamental o comprometimento organizacional e o suporte multidisciplinar.

Dra. Caroline Venzon Thomas
Psicóloga
Especialista em Psicologia Hospitalar
Mestre em Psicologia Clínica
Doutora em Ciências da Saúde