18 de agosto de 2023
AvAg 76 anos: Os personagens
A primeira operação aeroagrícola do Brasil foi coordenada por um agrônomo (que também teve tarefas que hoje seriam de técnicos agrícolas) e executada por um piloto altamente capacitado – parecido com a configuração atualmente exigida pela legislação
A primeira operação aeroagrícola do Brasil, em agosto de 1947, ocorreu já com parte da configuração de equipe que ocorre atualmente – sendo hoje exigida por lei: um piloto experiente e com boa formação (e, desde 1967, tendo que ter sido aprovado em Curso de Piloto Agrícola) e um engenheiro agrônomo atuando como Coordenador das operações. O comandante da aeronave, na ocasião, era Clóvis Gularte Candiota, então com 26 anos de idade, porém um dos mais experientes pilotos da região. Era “filho” da campanha Dê Asas ao Brasil, que equipou aeroclubes nos anos 40 e veterano dos voos de patrulha na costa gaúcha na Segunda Guerra Mundial.
Junto com ele, o agrônomo Antônio Leôncio de Andrade Fontelles, chefe do posto local do Ministério da Agricultura, que idealizou e coordenou a operação. Além de ter ajudado a carregar o avião e preparar o equipamento de aplicação. Cumprindo, assim, também tarefas que hoje são do Executor em aviação agrícola, função exercida atualmente por um técnico agrícola com especialização – profissional também obrigatório em campo pela legislação do setor.
COORDENADOR VINDO DO CEARÁ
Fonteles era cearense, nascido em 27 de outubro de 1920. Chefe do Posto de Defesa Agrícola do Ministério da Agricultura em Pelotas, ele estava às voltas com as grandes nuvens de gafanhotos que haviam se deslocado pela Argentina e chegado ao Estado pelo Uruguai, em 1946 e naquele 47. Em jogo estava a produção, só em Pelotas, de pelo menos 6,5 mil toneladas de alimentos como milho, trigo e feijão, entre outros, segundo o Departamento Estadual de Estatísticas na época. Para dar conta de enfrentar a praga, o Posto de Defesa Agrícola recebeu 20 polvilhadeiras manuais e duas motorizadas – para aplicação de inseticida. Além de um lança-chamas.
Mas ele sabia que deveria tentar a técnica que já funcionava havia mais de duas décadas nos Estados Unidos e na Argentina, envolvendo o uso de aviões para aplicação de inseticidas. Contando inclusive com imagens de um sistema de aplicação para inseticida em pó (era o que havia na época) contra a praga. Imagens que viraram um projeto que encomendado de um funileiro da cidade.
PRATA DA CASA
E foi aí que entrou Clovis Candiota, que pilotaria naquela operação tendo Fontelles no assento de trás, operando o sistema de pulverização – onde o produto era agitado e dispersado a partir de indução e ar no equipamento (para revolver o pó). Por sua vez, a partir de um bocal com tubo de borracha manuseado por Fontelles.
Candiota, que era de Pelotense desde 16 de setembro de 1920, era pouco mais de um mês mais velho do que Fontelles. Para o voo inaugural da aviação agrícola no Brasil, ele havia solicitado ao Aeroclube pelotense o Piper J-3 Cub da casa. Mas só lhe foi cedido o Muniz M9.
O irónico é que depois da operação ter sido um sucesso, Candiota e Fontelles ainda se tornaram sócios em uma empresa aeroagrícola e insistiram na escolha da aeronave. No caso, a Sanda – Serviço Aéreo Nacional de Defesa Agrícola, que funcionou com dois aviões Piper J-3 Cub novinhos, adquiridos em São Paulo pelos dois sócios.
A Sanda fechou no início dos anos 1950. Fontelles ainda segui no Ministério da Agricultura e, em 1958, mudou-se para o Rio de janeiro, onde segui se especializando em culturas e insetos daninhos. O agrônomo que coordenou a primeira operação aeroagrícola no país faleceu em 28 de agosto de 1989, aos 67 anos.
Já Candiota trocou a aviação pelo comércio e ações sociais. Ele faleceu em 11 de abril de 1976, com 55 anos. Em abril de 1989, Clóvis Candiota se tornou Patrono da Aviação Agrícola. Isso pelo Decreto-Lei 97.699, que também oficializou o 19 de agosto como Dia nacional da Aviação Agrícola.
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