21 de outubro de 2020
Aviação agrícola lançou mais de 10,8 milhões de litros de água contra incêndios
Saldo das operações entre julho e setembro teve ainda 6,8 mil lançamentos contra chamas, em mais de 1,8 mil horas voadas nesse tipo de operação
A aviação agrícola brasileira lançou mais de 10,8 milhões de litros de água contra incêndios este ano, em áreas de reservas naturais e lavouras em todo o País. A estimativa foi fechada nessa terça-feira (20), com base em dados das operações realizadas no combate às chamas no Pantanal e em áreas como a Serra da Mantiqueira em São Paulo e na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, além do cerrado no oeste da Bahia. Sem falar na atuação forte no socorro a produtores rurais, especialmente no noroeste paulista e no sudoeste goiano. Os números apontam ainda mais de 6,8 mil lançamentos de água contra focos de incêndios e em torno de 1,8 mil horas voadas nesse tipo de operação.
Conforme o secretário-executivo do Sindag, Gabriel Colle, os totais podem estar subestimados, já que parte das empresas não informou ao sindicato os dados de suas operações para o balanço. Segundo Colle, apesar de altos à primeira vista, os números não refletem uma demanda plenamente atendida. Isso pela falta de um plano abrangente no País, com todas as esferas de governo, prevendo o uso de aeronaves de maneira mais abrangente e coordenada contra as chamas.
TIMMING
O diretor explica que em muitos casos os aviões são acionados tardiamente, quando as brigadas em terra já estão exaustas e o fogo ampliou muito sua frente. O que significa mais desgaste de pessoal e equipamentos, mais horas de voo e maior necessidade de água contra as frentes. Em última instância, maior custo e, ainda assim, maiores perdas. “Nesse sentido, temos notado uma mudança de mentalidade no setor privado.”
Segundo Colle, em Goiás, por exemplo, há três anos os produtores rurais contam com brigadas de incêndio montadas pelas empresas aeroagrícolas. “Desde 2019 o número de chamados aumentou, sem que os incêndios aumentassem na mesma proporção. Motivo: os agricultores começaram a acionar o serviço menos tardiamente.” O mesmo em São Paulo, onde muitas usinas de cana passaram a pedir apoio aéreo imediatamente ao acionar seus brigadistas em terra.
Vale lembrar que os aviões agrícolas operam em incêndios sempre com brigadistas em terra. A função das aeronaves nesses casos é reduzir o fogo e resfriar o terreno, para que o pessoal em solo chegue exatamente nos focos e apague mesmo os pequenos braseiros. Além disso as aeronaves oferecem proteção aos brigadistas, para que não sejam cercados pelas chamas. E ainda fazem o combate direto a focos em áreas de difícil acesso.
PROJETO
No sentido de tornar a aviação agrícola uma ferramenta de ações de governo contra as chamas, o Senado aprovou no último dia 1º o Projeto de Lei (PL) 4.629/2020. O texto, de autoria do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), altera o Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/2012), determinando que os planos de contingência contra incêndios florestais no País contenham diretrizes para o uso da aviação agrícola. A ideia é criar mecanismos para se aproveitar de maneira mais racional a frota aeroagrícola e pilotos que ficam ociosos durante a entressafra nas lavouras. Período que coincide justamente com a temporada de incêndios florestais o Brasil.
A proposta teve ainda emendas aprovadas dos senadores Rose de Freitas (Podemos-ES), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Paulo Paim (PT-RS), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Elmano Férrer (Podemos-PI). Basicamente, os adendos enfatizaram a necessidade de se observar a preparação de aeronaves e pilotos para missões contra incêndios e ampliaram o incentivo ao uso da aviação agrícola no combate a chamas em todos os tipos de vegetação (não apenas biomas do Pantanal e Amazônia). O texto foi enviado para a Câmara dos Deputados, onde ganhou pedido de urgência para tramitação, feito pela deputada federal Rosa Neide (PT/MT).
Enquanto isso, no Mato Grosso, o deputado estadual Faissal Calil (PV) apresentou em agosto um projeto de lei (PL) prevendo a criação do Programa Estadual de Controle do Fogo. O texto aborda ações conjuntas do poder público, sociedade civil e entidades privadas. Entre as iniciativas, está o uso de aviões agrícolas no combate aos focos de calor. Isso lembrando que o Estado lidera o ranking nacional de frotas, com mais de 500 aeronaves agrícolas em seu território, segundo a Anac.