22 de outubro de 2024

Os 20 anos do avião agrícola Ipanema a etanol

Homologada em 19 de outubro de 2004, o modelo brasileiro é a primeira – e até hoje a única – aeronave no mundo fabricada em série movida a biocombustível

O último sábado (19 de outubro) marcou os 20 anos de certificação da versão a etanol do avião agrícola Ipanema, da Embraer. Foi o projeto do EMB-202A que tornou o modelo brasileiro a primeira – e até hoje a única – aeronave no mundo fabricada em série movida a biocombustível.

Atualmente produzido na versão EMB-203, o Ipanema segue saindo da fábrica da Embraer em Botucatu, no interior paulista, com motor a etanol. Mais do que isso, a versatilidade e economia do modelo ajudaram o País a ter cerca de um terço de sua frota aeroagrícola (que é a segunda maior do mundo) funcionando com combustível verde.    

Segundo o dirigente do setor Aviação Agrícola da Embraer, Sany Jaques Onofre, a empresa já comercializou mais de 570 unidade do Ipanema movidas pelo derivado da cana-de-acúcar. Além disso, nesses 20 anos outras mais de 210 aeronaves de versões anteriores do modelo tiveram seus motores convertidos de gasolina para o biocombustível. “Sinônimo de eficiência e baixo custo operacional, o Ipanema é a solução perfeita para quem busca aumentar a produtividade por hectare e contribuir para a sustentabilidade do setor agrícola”, destaca Onofre.

Lembrando que o avião (que nasceu nos anos 1970), representa hoje mais de 50% da frota aeroagrícola brasileira. O modelo está em sua sétima geração (com a versão 203) e desde 2004 (com a versão 202A) sai de fábrica com motor a etanol.

NASCIMENTO

Conforme o fundador da Embraer e seu primeiro diretor, Ozires Silva, o Ipanema foi um dos três projetos estrategicamente importantes no início da fabricante brasileira – os outros foram o Bandeirante (projeto nacional que marcou o próprio início da empresa) e o AT-26 Xavante (projeto militar da italiana Aermacchi). Em entrevista à edição nº 12 da revista Aviação Agrícola, em 2021, intitulada “O homem que ensinou o País a fabricar aviões”, Ozires lembrou que o Ipanema surgiu por insistência do então tenente-coronel Marialdo Rodrigues Moreira.

Ex-colega do Ozires na Academia da Força Aérea, Marialdo havia sido cedido nos anos 1960 pelo Ministério da Aeronáutica à pasta da Agricultura justamente para organizar e impulsionar o segmento aeroagrícola. Na época, ele explicou ao diretor da Embraer que o País precisava de um avião para ampliar a produção agrícola, a fim de depender menos das importações  de alimentos. Ao mesmo tempo em que o Brasil já ensaiava uma expansão que precisaria caminhar com tecnologia, para garantir sustentabilidade.

Foi aí que, como conta na entrevista o fundador da Embraer, entrou em cena o engenheiro aeronáutico Guido Pessotti – um dos mais importantes projetistas aeronáuticos que o País já teve, então diretor técnico da empresa. Pessotti se entusiasmou com a ideia e teve sinal verde para tocar o projeto, junto com outros projetistas da casa – e com visitas frequentes de Marialdo.

NOME

O nome do avião vem da antiga Fazenda Ipanema, onde – entre o final dos anos 60 e o início da década de 90, eram formados os pilotos agrícolas brasileiros. O modelo teve seu primeiro voo em 1970. No ano seguinte, foi apresentado no primeiro evento aeroagrícola ocorrido no Brasil.  No caso, a 1ª Reunião Anual dos Aplicadores Aéreos Brasileiros, promovida em julho de 1971 pelo Ministério da Agricultura.

A programação principal foi no Parque Anhembi, em São Paulo, dentro da 3ª Feira da Técnica Agrícola, com a participação de pioneiros como Clóvis Gularte Candiota e Ada Rogato (primeiros homem e mulher pilotos agrícolas do País), Eduardo Araújo (um dos fundadores, ex-diretor e hoje consultor do Sindag), o próprio Marialdo Moreira, além de Joaquim Eugênio (Joaquim da Broca), Orlando Bombini e outros nomes da história da aviação agrícola brasileira. Nesse evento, a primeira aparição pública do Ipanema foi no Campo de Marte, também na capital paulista. 

Segundo a fabricante brasileira, desde a sua certificação do EMB-202A, em 19 de outubro de 2004, o Ipanema já evitou a emissão de mais de 28 milhões de toneladas de CO2. Uma média de 1.4 milhão de toneladas por ano. Aliás, o próprio desempenho do avião acabou melhorado graças à utilização da fonte de energia renovável. 

O outro fato relevante sobre o tema foi o anúncio da Embraer, no último mês de agosto, da primeira venda de um Ipanema 203 movido a etanol por meio do programa Fundo Clima. Trata-se de uma linha de financiamento criada pelo governo federal e administrada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para apoiar a aquisição de máquinas e equipamentos com menos emissões de gases do efeito estufa.

VEDETE: modelo está em sua sétima geração e foi destaque no Congresso da Aviação agrícola do Brasil (Congresso AvAg) ocorrido em agosto, no Mato Grosso – foto: Castor Becker Júnior/C5 NewsPress

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