29 de janeiro de 2023
Reino Unido autoriza drones para pulverização em lavouras
Por enquanto, medida abrange modelos da chinesa XAG, visando incentivar os produtores rurais a apostarem mais na tecnologia de aplicações aéreas, além de focar na redução da pegada de carbono da produção rural
A Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido (CAA, na sigla em inglês) concedeu sua primeira permissão para drones de pulverização aérea no bloco formado pela Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) e Irlanda do Norte. No caso, para modelos P40 e V40 (com capacidade de 20 litros), fabricados pela chinesa XAG. A certificação havia sido solicitada pela representante inglesa da marca, a AutoSpray Systems, de Stoke-on-Trent (cerca de 80 quilômetros ao sul de Liverpool).
A conquista veio ainda em dezembro, mas foi anunciada neste mês pela empresa, que fornece também veículos autônomos terrestres para a agricultura. Até então, a legislação do Reino Unido permitia apenas o uso de drones de até 25 quilos e sem lançamento de produtos – o que, na lavoura, restringia as operações apenas para aparelhos de coleta de imagens. Agora, além da aplicação de produtos sólidos ou líquidos nas lavouras, os aparelhos estão sendo usados também para o sombreamento de estufas de vidro – neste caso, com aplicação de tinta na cobertura das estruturas.
A medida faz parte de um projeto estratégico do governo, publicado em julho do ano passado e que visa a tornar o bloco das quatro nações referência mundial no uso de tecnologias autônomas ou remotas. Planos estes que consideram um relatório da consultoria PwC (antiga PricewaterhouseCoopers), que aponta um mercado potencial de 45 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 285 bilhões) para o mercado de drones no Reino Unido até 2030.
Além de ajudar os agricultores a aumentarem a produtividade em países onde predominam as pequenas e médias fazendas (muitas em terreno acidentado), a aposta na tecnologia aeroagrícola tem por trás também o foco na redução da pegada ambiental. O que está implicando também em uma mudança, no âmbito do Reino Unido, do viés do auxílio financeiro historicamente repassado aos produtores rurais no continente europeu.
REDUZINDO A PEGADA AMBIENTAL
Hoje a agricultura representa cerca de apenas 1% do PIB do Reino Unido, apesar de cobrir cerca de 71% de seu território. Com o grupo de nações sendo o quarto maior importador de alimentos do mundo – segundo relatório da Embaixada Brasileira em Londres em julho de 2022. Além disso, a exemplo de toda a Comunidade Europeia, há décadas os produtores locais são mantidos à base de subsídios estatais. A ponto dessa ajuda representar cerca de 71% da receita líquida dos agricultores do bloco britânico (65% na Inglaterra, 97% no País de Gales, 82% na Escócia e 85% na Irlanda do Norte), de acordo com o portal Invest & Export Brasil, do governo brasileiro.
Após o Brexit, esses subsídios foram mantidos no Reino Unido, mas se passou a desenhar uma estratégia para substituir a Política Agrícola Comum (CAP) da Comunidade Europeia – cujos recursos pagos principalmente como base na área cultivada, independente da produtividade. Daí veio a ideia do Plano de Melhoria Ambiental, do Departamento de Meio ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais do bloco britânico, vinculando a ajuda financeira cada vez mais à redução da pegada de carbono.
Por exemplo, substituindo a queima de diesel dos tratores e outros equipamentos terrestres de aplicação pela aposta em energias limpas, como os drones elétricos. O que, aliás, que conta com apoio também do órgão Pesquisa e Inovação do Reino Unido (UKRI), vinculado ao Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial (BEIS, na sigla em inglês).
ALIÁS…
A título de comparação, ponto para o Brasil no quesito pegada de carbono. Em um dos maiores mercados potenciais para drones agrícolas do planeta, o País tem a segunda maior frota de aeronaves agrícolas do mundo. Onde cerca de cerca 35% do total já são de aviões movidos a etanol.
Além disso, mesmo as aeronaves convencionais movidas a gasolina ou querosene de aviação (respectivamente, 41% e 24% da frota) representam ganho ambiental. Simplesmente pela velocidade de precisão na aplicação de insumos, que representa um trabalho feito dez vezes mais rápido do que os equipamentos terrestres.
Ou seja, ficam com seus motores acionados apenas um décimo do tempo de um equipamento movido a diesel para cobrir uma mesma extensão de área. E utilizando até 20 vezes menos água e seguidamente aplicando menos insumos (economizados pela precisão e menos probabilidade de retrabalho).