4 de agosto de 2024

ESPECIAL:  Frota, valor, sustentabilidade e vida

O Brasil tem 2,7 mil aeronaves agrícolas em 24 Estados, num mercado que lá fora gera US$ 3,7 bi/ano em produção sustentável e que estará daqui a duas semanas no Congresso AvAg 2024

Conforme estimativas do Sindag, a aviação agrícola brasileira tem atualmente cerca de 2,7 mil aeronaves em operação. O cálculo tem como base as vendas de aviões agrícolas registrados pela Embraer e pelas duas fábricas norte-americanas do segmento  (Air Tractor e Thrush Aircraft) para o setor aeroagrícola brasileiro em 2022 e 2023. Isso somado às 2.432 aeronaves apontadas no último levantamento junto ao Registro Aeronáutico Brasileiro da Anac (sobre a frota em 2021), divulgado pelo Sindag. Além disso, o Brasil segue com a segunda maior frota mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente de países como México, Canadá, Argentina, Austrália, Nova Zelândia e Uruguai.

A entidade não tem um novo levantamento por Estado, mas a aposta é de que o ranking brasileiro tenha se mantido estável pelo menos nas colocações dos Estados com maior quantidade de aeronaves. Assim, o Mato Grosso ainda lideraria com folga, com quase 24% de toda a frota aeroagrícola do País. O que se confirma também pelo fato do Estado ser um dos principais destinos das aeronaves novas. Em segundo no ranking nacional viria o Rio Grande do Sul, com 17% da frota e São Paulo e Goiás com cerca de 12% cada. Com os outros 21 Estados dividindo o restante.

ESSENCIAL: setor está presente direta ou indiretamente na vida de toda a sociedade, do biocombustível às fibras para roupas e nos alimentos que chegam à mesa – Fotos: Castor Becker Júnior/C5 NewsPress

Proporções de aeronaves e pilotos

Sobre a quantidade de aeronaves de asa fixa x helicópteros, a aposta é de que os aparelhos de asas rotativas seguem representando cerca de 1% da frota. Percentual é o mesmo do levantamento da frota de aeronaves em 2021, mas que ainda bate com a atual proporção de licenças válidas de pilotos agrícolas. Segundo dados da Anac, agosto de 2024 começou com o Brasil tendo 2.162 pilotos agrícolas de avião (PAGA) e apenas 23 pilotos de helicópteros (PAGH) com licença válida para voar no trato de lavouras.

Dois pontos importantes: a diferença do número de aeronaves para a quantidade de profissionais se deve ao fato de nem todas as aeronaves voam o tempo todo (há, por exemplo, aparelhos em manutenção ou simplesmente parados temporariamente). Além disso, “licenças válidas” quer dizer documentação em dia.

PESSOAS: País tem mais de 2 mil pilotos com licença válida para piloto agrícola, além de milhares de outros profissionais que fazem o setor voar diariamente

Neste caso, o número pode sofrer alguma oscilação quando, por exemplo, profissionais formados para a atividade fica um tempo fora do mercado de trabalho e deixam suas licença vencerem – o que pode ser corrigido quando decidem voltar ao mercado. Segundo dados atuais da Anac, há 360 empresas aeroagrícolas registradas no órgão.

Estados Unidos têm 3,4 mil pilotos

Já nos EUA, que têm a maior frota aeroagrícola do planeta, o número de pilotos no setor é de 3,4 mil profissionais, segundo levantamento da Associação Nacional de Aviação Agrícola do país (NAAA, na sigla em inglês). Desse total, 2 mil profissionais são pilotos contratados e 1,4 mil são empresários aeroagrícolas que pilotam em suas empresas. Aliás, os Estados Unidos têm o setor aeroagrícola presente em seus 50 Estados – da Califórnia ao Alaska e das costas leste a oeste, com nada menos de 1.560 empresas aeroagrícolas.

Além disso, os operadores aéreos estadunidenses fazem aplicações em 51,4 milhões de hectares anualmente, para o controle de pragas e doenças. Além de aplicar fertilizantes e fazer semeadura de lavouras. Fora outros 2,4 milhões hectares no trato de florestas, 3,2 milhões de hectares de semeadura de pastagens.

Com isso, o setor lá é responsável por proteger cerca de 28% das lavouras paíspercentual semelhante ao que é atendido pelo setor no Brasil. Além disso, nos dois países os pilotos agrícolas também atuam em combate a incêndios florestais.

SAÚDE PÚBLICA: as estatísticas do setor aeroagrícola norte-americano incluem ainda 1,95 milhões de hectares anuais em aplicações de saúde pública. Ou seja, aplicações de larvicidas biológicos e inseticidas contra mosquitos.  Seja em operações anuais de rotina em cidades ou em ações de emergência em áreas atingidas por desastres naturais.

O que no Brasil ainda não é feito principalmente pelo desconhecimento das virtudes da ferramenta no combate a vetores. Além de mitos sobre a atividade aeroagrícola historicamente propagados em nosso País. Mesmo com o Ministério da Saúde brasileiro já tendo registrado, só neste 2024, cerca de 5 mil mortes por causa da dengue e outros mais de 2 mil óbitos em investigação. Ignorando inclusive o retrospecto de uma experiência exitosa com a técnica em 1975, quando a aviação salvou centenas de vidas no interior paulista. História que pode ser conferida na revista Aviação Agrícola, em uma edição sobre o tema em 2019.

Setor gera US$ 37 bilhões/ano

Outra estatística dos EUA que dá uma ideia da importância da aviação agrícola também no Brasil vem da Texas A&M University.  A entidade é (desde o século 19) referência mundial em pesquisas e ensino sobre tecnologias sustentáveis para o agro. E divulgou em 2021 um estudo sobre o valor da tecnologia aeroagrícola – indicando que, sem aviação agrícola, os EUA precisariam abrir mais 11 milhões de hectares de lavouras para equiparar a produção de milho, trigo, soja, algodão e arroz conseguida com a ferramenta aérea. O que dá uma área quase do tamanho do Estado do Tennessee.

O mesmo estudo também avaliou em 37 bilhões de dólares anuais o valor que a produtividade conseguida com o trato aéreo faz girar entre agricultores, fornecedores de insumos e processadores, além dos setores de transporte e armazenamento ligados à produção de milho, trigo, algodão, soja e arroz nos EUA.

Sustentabilidade em alta

Ainda sobre dados dos coirmãos do norte que lançam luzes sobre a importância do segmento aeroagrícola no Brasil, há também o artigo do consultor de aviação Brian Rau, de Dakota do Norte (que figura no Hall da Fama do setor naquele Estado). Além de reforçar os dados da Texas A&M University sobre a contribuição do setor para se produzir mais sem avançar a fronteira agrícola, Rau destaca no documento que a aviação agrícola ainda ajuda a combater o efeito estufa.

VERDE: cerca de 35% da frota aeroagrícola brasileira já é movida a etanol, muito à frente de qualquer outro país. 

Isso por conta dos 1,54 milhões de hectares de cobertura verde que os aviões semeiam anualmente nos EUA. Que, por sua vez, sequestram 1,9 milhão de toneladas métricas de CO2. Volume que, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), equivaleria a retirar das estradas 412 mil automóveis com motor a combustão. Lembrando que a semeadura de cobertura verde no Brasil também é feita pela aviação agrícola.

E aí o consultor norte-americano avalia ainda outro desafio ambiental – este da aviação geral em todo o mundo. No caso, a urgência da substituição da gasolina de aviação (avgas, que contém chumbo) nas aeronaves com motor a pistão. Rau cita a alternativa do motor a etanol, que nos EUA ainda não emplacou. Mas que no Brasil é ponto positivo para o setor aeroagrícola, onde quase 35% da frota já é movida a biocombustível. Aliás, mesmo em nosso País a aviação agrícola é o único setor da aviação geral com esse diferencial.

DESDOBRAMENTOS

O tema aviação agrícola e meio ambiente teve recentemente desdobramentos importantes no Brasil. Um deles por conta do lançamento, pelo Sindag, da cartilha Compromissos da Aviação Agrícola com a Agenda 2030 do Pacto Global da ONU. O documento aponta cada uma das ações propostas e as já em andamento pelo setor aeroagrícola no âmbito do Pacto Global. Onde o foco é ajudar o País a colocar o mundo em um caminho mais sustentável e resiliente até 2030, dentro 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU.

O outro fato relevante sobre o tema foi o anúncio da Embraer, nesta semana, da primeira venda de um Ipanema 203 movido a etanol por meio do programa Fundo Clima. Trata-se de uma linha de financiamento criada pelo governo federal e administrada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de apoio à aquisição de máquinas e equipamentos com menos emissões de gases do efeito estufa.

A entrega da primeira aeronave agrícola comprada nessa linha de financiamento está prevista para o terceiro trimestre de 2024. A expectativa é de que o programa emplaque com força no setor e ajude alavancar ainda mais a frota aeroagrícola brasileira. Reforçando seus predicados de produtividade e sustentabilidade.

Lembrando que o modelo Ipanema (que nasceu nos anos 1970) e representa mais de 50% da frota brasileira. O avião está em sua sétima geração (com o modelo 203) e desde 2004 (com o modelo 202 A) sai de fábrica com motor movido a etanol.

Todos rumo ao Congresso AvAg

Sem esquecer que todo esse cenário estará reunido presente no Congresso da Aviação Agrícola do Brasil (Congresso AvAg) 2024, que ocorre de 20 a 22 de agosto no Mato Grosso. Mas especificamente no Aeroporto Executivo de Santo Antônio do Leverger (a 30 km de Cuiabá), com mais de 200 marcas expondo suas tecnologias e tendo como tema justamente A tecnologia que gera sustentabilidade.

O encontro é um dos maiores eventos aeroagrícolas do mundo e este ano estará “vitaminado”. Isto porque abrange também o Congresso Mercosul e Latino-Americano de Aviação Agrícola e está voltando ao Estado com a maior frota aeroagrícola do País – depois de 11 anos fora do Centro Oeste do País.

Além de reunir os fabricantes e aeronaves e os grandes fornecedores de tecnologias e serviços para o setor, evento também é referência na geração de conhecimento. Por conta do Congresso Científico da Aviação Agrícola (que ocorre dentro do Congresso AvAg). Que terá nada menos do que 24 trabalhos apresentados e avaliados durante a programação. Junto com as demonstrações aéreas de aviões e drones agrícolas, minicursos e debates sobre o futuro da atividade. Com entrada gratuita ao espaço da feira, apresentações e discussões.

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